domingo, 2 de dezembro de 2012

Duas poetas: Andréia Carvalho e Rosana Banharoli


CAMAFEU ESCARLATE E VENTOS DE CHUVA

Em certa oportunidade levei os originais de um livro de poesia para um editor e ele disse: “Não edito poesia, poesia tem mais escritores que leitores”. Lembro-me de que a frase teve um efeito forte, porque é ao mesmo tempo engraçada e chocante. Falei isso em aulas e, como o leitor deve saber, muitas vezes as pessoas escutam “A” e entendem “B”. Um aluno saiu da aula dizendo que eu havia falado que no Brasil tem mais escritores que leitores. Nunca falei isso!!! Só contei um fato real.

Pois bem, é comum os editores dizerem que poesia não vende. Realmente, são poucas as editoras que publicam esse gênero. Editora precisa vender para sobreviver e o mercado dos livros é muito competitivo. O marketing necessário para que um livro saia das prateleiras e seja um dos mais vendidos exige um projeto inteligente e muito dinheiro. As editoras investem em livros que têm mais potencial de venda, isso não quer dizer que o livro seja de boa qualidade literária, mas que pode atrair um número elevado de leitores.

Reiteramos, raramente acontece isso com um livro de poemas. Um livro de poema entre “os mais vendidos” não é um fato comum. No momento, Ferreira Gullar é considerado o melhor poeta brasileiro vivo. Sua técnica é impecável. Ferreira Gullar elabora seus versos dando sofisticação e leveza, e isso não é fácil.
Apesar de que a venda dos livros de poemas não é muito expressiva, o número de poetas, sim. Muitas pessoas escrevem poesia e querem ver seus livros nas livrarias e bibliotecas. Querem ser lidos. Recebemos dois livros de poemas e vamos falar sobre eles.

CAMAFEU ESCARLATE, de Andréia Carvalho, (São Paulo, Lumme Editor, 2012) e VENTOS DE CHUVA, de Rosana Banharoli (São Paulo, Scortecci, 2011).

Andréia Carvalho é o nome literário de Andréia Ticiane Pires de Carvalho. Natural de Ponta Grossa, reside em Curitiba, estudou Ciências Biológicas e Produção Multimídia. Atualmente cursa Pedagogia - Magistério da Educação Infantil e Anos iniciais do Ensino Fundamental, na CIPEAD/UFPR.
Seu caminho literário vai se consolidando aos poucos, tem publicações em diversos blogs, poemas nas revistas eletrônicas Zunái, de nosso amigo, o poeta Claudio Daniel, na revista online Germina e Eutomia. Alguns de seus poemas foram traduzidos em catalão e espanhol por Joan Navarro. Teve participação em miniantologia poética da Agenda de Programação do CCSP, Centro Cultural São Paulo (edição de fevereiro de 2012).
Seu primeiro livro de poesia “A Cortesã do Infinito Transparente” foi lançado em 2011 em Curitiba. O segundo livro “Camafeu Escarlate” foi publicado em agosto de 2012. Ambos publicados pela Lumme Editor. O estilo de Andréia é um tanto hermético, povoado de imagens de símbolos e exige muita atenção do leitor. Poderíamos dizer que é um livro para quem gosta de degustar a poesia como um vinho com corpo, cor e sabor diferente. Andréia é dona de uma pluma escura e de traços firmes. Ela arrasta o leitor pelos caminhos que sua alma sugere.


 Vejamos um poema:
9 ponto cantado de mu

quem te chama
sacerdotisa de lata
pupila extravasada
ninfa brusca
gêmea de prata
cnidária
dá-me a mão duende
nutritiva
plástica
nem que me seja amarga
nem que me seja farta (...)

O livro “VENTOS DE CHUVA”, de Rosana Banharoli, brinda uma gama de poemas que falam à subjetividade humana. Rosana já foi ganhadora de vários concursos literários. Ela esclarece que é “Jornalista por formação e poeta por teimosia”. Membro da Comissão de Literatura de Santo André (2011). Participou de várias antologias de poesia através de premiações em concursos literários. Tem poemas e microcontos publicados em diversos sites renomados como Revista Piauí, Revista Maria Joaquina, Revista A Cigarra, Revista Trapiches, Caderno Pragmatha, Momento Lítero Cultural, Clube dos Poetas do Litoral e na edição especial, Poetas pedem paz, na Revista Germina, entre outros.



Vejamos um poema de Rosana Banharoli:

Enquanto caminho, chove
Em meio a cicatrizes urbanas
desvio-me de pingos
que brincam no ar.
Poderia me agarrar a eles e voar.
Preferi ficar aqui:
jogando sementes e regando versos.

São dois estilos diferentes, mas ambas poetas conseguem uma expressão muito própria, peculiar.
Vale a pena conferir.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada. Autora de “Os corvos de Van Gogh”, da editora VirtualBooks.
(Texto publicado na coluna Livros do ICNews).

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