segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VOCÊ COMPRA LIVROS PELOS TÍTULOS?...


Os títulos dos livros funcionam como “ganchos” literários. E quem se baseia em títulos para comprar livros, às vezes cai em uma emboscada. Título bom, conteúdo ruim. Mas nem sempre. Muitas vezes, o título passa alguma idéia do livro, por exemplo, ao ler o título Cem Anos de Solidão de Garcia Marques, temos a sensação de que os personagens estão submersos em uma solidão sem fim.


Em uma das aulas de criação literária que ministramos em Curitiba, uma senhora levou um livro chamado Melancia. Um rapaz, ao ver o livro, comentou com sarcasmo “pessoal, imaginem quanto essa autora deve ter pensado para escolher um título tão elaborado, tão sofisticado, tão criativo: Melancia”. A turma riu. Outra moça acrescentou: “parece livro de receita de cozinha”. Mais risos. A senhora, um pouco zangada, defendeu o livro dizendo que ela havia lido e havia gostado.

E é assim mesmo, gosto não é para discutir (a não ser que você seja crítico de literatura ou de arte). Se todos os autores escrevessem livros ao estilo de Marcel Proust, não teríamos opções de estilos. Mas é bom analisar as implicações de um título. Muitas vezes, o autor coloca um título em seu livro e a editora sugere outro. O apelo comercial é muito importante para as editoras, pois ninguém quer publicar um livro que fique encalhado.

Muitas livrarias escolhem pelas capas, os livros para exposições em vitrines e gôndolas. Nelas distinguimos dois elementos importantes: o título do livro e a imagem. Capas bonitas, capas chocantes, títulos de impacto têm maiores chances de vendas.

Robert Kiyosaki, autor de Pai Rico, pai Pobre, conta que um editor aconselhou o título Economia doméstica. O escritor, com bom discernimento, exclamou: Quem vai comprar um livro de economia doméstica?!! Pai Rico, pai pobre é um título provocador. E deu certo, o livro vendeu milhões de exemplares.

Acontece que o mercado editorial está tão saturado, são tantos títulos novos todos os anos que fica difícil escolher. Por isso, muitos leitores procuram por autores consagrados. As obras de Garcia Marques, Lygia Fagundes Telles, Loyola Brandão, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar (e outros, pois é impossível nomear a todos) parecem trazer o selo de qualidade impresso na capa.

Muitas pessoas chegam às livrarias e perguntam: Tem algum livro novo de Moacyr Scliar? Quais são os livros de Lygia Fagundes Telles que você tem? Às vezes, os leitores já conhecem esses autores ou escutaram falar e querem conhecer...

Para não nos deixarmos levar só pela capa, uma boa técnica é ler as orelhas do livro, o sumário e o prefácio. Com isso, já teremos uma visão mais próxima do seu conteúdo e poderemos avaliar se a obra será de nosso agrado. Pois ler deve ser como aquelas propagandas de cigarro,“um raro prazer” e o importante é que ler não causa câncer nem impotência. Leitura só traz vantagens, pessoal, só vantagens.


Crônica de Isabel Furini publicada em 10/11/2008 no site: autores.com.br

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Convidada pelas Livrarias Curitiba para falar sobre a arte da escrita, informo que ministrarei a palestra COMO ESCREVER UM LIVRO, em 22 de março, às 19:30 horas, na livraria do Shopping Estação, Curitiba.

Serão abordados assuntos importantes da arte de escrever, entre eles, como criar personagens marcantes, a escolha do enredo, o trabalho do escritor.

A entrada é franca.

PALESTRA PARA FUTUROS ESCRITORES


Convidada pelas Livrarias Curitiba para falar sobre a arte da escrita, informo que ministrarei a palestra "Como Escrever um livro", em 22 de março, às 19:30 horas, na livraria do Shopping Estação.

Serão abordados assuntos importantes da arte de escrever, entre eles, como criar personagens marcantes, a escolha do enredo, o trabalho do escritor.

A entrada é franca.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

JORGE LUIS BORGES – e o poema de autoajuda


Acho que foi em 2005, orientava oficinas de textos no Solar do Rosário, quando uma amiga falou do poema intitulado Instantes (ou Momentos), com “dicas” de mente positiva, de autoria de Jorge Luis Borges. Minha primeira reação foi gritar: Não pode ser de Borges! Ela insistiu, dizendo que o texto estava circulando pela Internet.

Eu retruquei: Borges escrever um texto de mente positiva? É algo assim como Drácula elogiar o leite!

O poeta cego, escrevendo temas de positivismo mental? Borges? Aquele cego de voz amarga que eu havia escutado em uma palestra em 1970, quando estudava filosofia em meu país? A turma o escutou em silêncio, olhando-o como a um ídolo. Apesar de muitos o odiarem por sua posição política (extrema direita).

Ele divertiu a plateia com frases irônicas como: “as pessoas têm o mau costume de morrer”, ou “minha mãe tem tantos anos que ela não é eterna, ela é imortal”. Depois falou dos paradoxos de Zenon de Eleia.

Só participei dessa palestra. Se fosse hoje, não perderia uma única oportunidade de escutá-lo. Mas, na época, eu era jovem e estava mais interessada em passar longas horas em bares, discutindo temas de filosofia com meus amigos Alice, Jorge e Cristina, que em escutar um gênio como Borges. Vocês sabem como é... aos 20 anos, a gente se acha dono do mundo – e demora um tempo até entender que o mundo é que é o dono da gente.

Escutei dizer que Borges reclamava de tudo – mas isso é cultural. Afirmam que os argentinos nascemos reclamando do médico e das enfermeiras. E nossas primeiras frases não são: Eu amo a minha mãe, nem eu amo meu pai. Mas: Mamãe, a fralda está apertada. A mamadeira está fria...
Lembrei-me do conto O Imortal. O final reduz o conhecimento e a vida humana a palavras... Esse Borges irônico, mordaz, cáustico, filosófico, amante dos livros de Schopenhauer e dos paradoxos de Zenon, havia escrito um texto de mente positiva, antes de morrer?

Bem longe dos textos positivos (ajudam as pessoas, mas não têm valor do ponto de vista da literatura), Borges sempre foi um aristocrata da palavra. Adorava reformular o mundo. Sua visão não podia ser contida nem limitada no acontecer diário. Em um texto, ele alega que existem dois Borges, um que levanta da cama, toma o café, faz a barba. O outro Borges, ele vê nas enciclopédias, nas revistas literárias. E termina, deixando uma dúvida sobre o leitor: Não sei quem está escrevendo esta página, se eu ou ele.

O que deslumbra em Borges é sua escrita que nos leva por caminhos imprevisíveis. É sua visão do mundo. Sua linguagem cultíssima, consolidada por muitas horas de leitura e estudos. Borges provoca, desestrutura e mostra ao leitor que o mundo pode ser interpretado de outras maneiras. O poema: “Instantes”, de autoria de Nadine Stair, é como um acalanto. Os poemas de Borges são turbilhões. Estéticos. Intensos. Avassaladores. Sacodem nossa sensibilidade.

A literatura era sua matéria prima. Ele foi um pensador. Um criador apaixonado, de visão singular. Borges nunca gostou de elogios diretos. A um jornalista que o chamou “um dos grandes literatos de nosso século”, Borges respondeu: “é que este foi um século muito medíocre”.

Comprovou-se. O poema era de uma velhinha chamada Nadine Stair, que queria dar uma mensagem ao mundo. Abordei o assunto porque uma pessoa - também poeta - disse-me que, para ela, o poema era de Borges, e que havia uma confabulação para ocultar seu arrependimento da forma como havia vivido. A verdade é que todos estamos arrependidos de alguma coisa – ainda que nem sempre o confessemos. Morrer é fechar o livro, sabendo que não poderemos escrever nem mais uma linha. Enquanto somos jovens, a luta pela vida nos arrasta como um maremoto, mas com os anos, declinamos de muitos de nossos sonhos e lutas.

Pensar que Borges poderia ter refletido sobre o assunto... talvez. Isso não sei. Porém, acreditar que Borges pudesse ter sido o autor desse poema repetitivo, sem metáforas, sem jogos linguísticos, sem pensamento crítico, é um pouco de ingenuidade.

A viúva do escritor, Maria Kodama, declarou que teve de ir à Justiça deixar registrado que o texto não era de Borges e que ela, como sua herdeira, se negava a receber os direitos autorais dele advindos.

Esclareço que eu gostei da mensagem, mas seria muito estranho atribuí-la a Borges. Instantes, de Nadine Stair, é um texto singelo, direto. E as mensagens são lindíssimas!..

"Se pudesse vi ver novamente a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido,

na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiénico.

Correria mais riscos, viajaria mais,

contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvete e menos lentilha,

teria problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata

e produtivamente cada minuto dasua vida; claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver,

trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida,

só de momentos,não perca o de agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro,u

ma bolsa de água quente,

um guarda chuvae um pára quedas;

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua.

Contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,

Se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anose sei que estou morrendo.»

Lembremos que Borges afirmou: “Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões...”


Vamos ver a diferença de linguagem, de estilo e de postura, lendo um poema (verdadeiro) de Borges. Você estará de acordo comigo, os estilos são muito diferentes.

AS COISAS (Tradução de Ferreira Gullar)
(...)Quantas coisas,limas, umbrais, atlas e taças, cravos,

nos servem como tácitos escravos,

cegas e estranhamente sigilosas!

Durarão muito além de nosso olvido:

E nunca saberão que havemos ido.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Escritor Miguel Sanches Neto (Entrevista)


Chá das Cinco com o Vampiro está agitando Curitiba. Nesses últimos meses ouvi aquele burburinho sobre o autor dessa obra, o escritor , professor e crítico literário Miguel Sanches Neto. O pessoal emite conceitos tão diferentes sobre ele, do tipo “esse cara é um grande escritor”, “ele é um oportunista”, “ele é honesto demais”, que decidi entrevistá-lo e criar minha própria opinião.

Queria conhecer o trabalho de Sanches Neto e comecei com Venho de um País Obscuro e Pisador de Horizontes. Fiquei apaixonada por dois poemas desse livro: Difícil Aceitar (pág.143) e Poema para a Menina sem asas (Pág. 45). Esses versos expressam sua revolta contra os clichês e terminam com alto grau de lirismo e sensibilidade.


Imediatamente procurei Chove Sobre Minha Infância. O livro é realmente envolvente. Quando o menino pobre insiste em estudar e é enviado para o colégio, lemos: “Os pais estão longe, não podemos contar com os professores e com os empregados. Temos que sobreviver no meio de um jogo de poder em que fala mais alto quem pode mais...” (pág.137). Talvez Miguel Sanches Neto tenha vislumbrado o mesmo jogo de poder nos meios literários.
Quando enviei e-mail minha primeira surpresa foi a receptividade. Ele aceitou a entrevista. Em segundo lugar, fiquei admirada com sua honestidade. Ele não fugiu das perguntas. Nem respondeu com frases retóricas. Miguel Sanches Neto foi direto, objetivo, e suas respostas revelam um escritor que analisa seu próprio processo criativo friamente, sem autoelogios e sem sentimentalismo.


Essa honestidade podemos também perceber nos livros Chove sobre minha infância e Venho de um país obscuro, nesse último fala: Minha mãe comprava um único pão, repartindo-o entre quatro bocas”. (Pág. 13). Minha vó lavava roupas para fora e sempre trazia alguma sobra”. (Pág.17) “O padrasto me ensinou a ser correto, a não mentir, não furtar e todo o resto, mas exigindo ser obedecido em tudo, reduzindo-nos a passivos súditos.” (pág. 20).


Mas, no momento, o livro de Sanches Neto que desperta mais interesse é Chá das Cinco com o Vampiro, por isso começamos a entrevista com uma pergunta sobre esse livro.


1) Como foi gestado seu novo livro Chá das Cinco com o Vampiro?


Este romance nasceu de um projeto de criar um universo paralelo ao universo literário curitibano dos anos 90. Eu tive uma percepção de que havia muitos personagens possíveis naquele meio. Era um momento - começo dos anos 2000, em que tinha me desiludido com a vida literária, então havia um sentimento forte de frustração nos meus projetos de viver num ambiente literário. Foi neste contexto que nasceu o livro, onde uso e abuso da ficção para fazer um painel não do meio literário de Curitiba, mas do meio literário a partir de Curitiba.


2) Você foi criando os personagens e escolhendo como modelos escritores paranaenses ou, ao contrário, os personagens foram aparecendo na sua mente, criando-se sozinhos, como Minerva na cabeça de Zeus?


Eu queria contar uma trajetória e contar um ambiente, então foi esta espinha dorsal - a ida de um jovem problemático para a capital, a construção de uma outra possibilidade de ser, a solidão daquele que sai de seu território, a ilusão de uma vida no grande monde, e rompimento total com tudo a partir da primeira grande experiência existencial - a morte de uma pessoa amada. Em torno disso nasceram personagens que ora estão mais próximos do mundo factual, ora mais distantes - mas que são sempre pessoas ficcionais.


3) Você pensou e escolheu o enredo, ou "foi escolhido pelo enredo", a história foi tomando corpo sozinha, sem sua vontade.


Num primeiro momento, havia só o impulso para escrever, e fiz algumas tentativas soltas. Quando achei o caminho, estruturei muito rigorosamente o enredo - fiz uma planta baixa. Ao alternar tempos, criei a possibilidade de estabelecer confrontos. Em Pebiru, o personagem vive uma coisa que só terá resposta no outro tempo, já em Curitiba - e fui montando estes paralelismos, muitas vezes usando a ironia.


4) Você já escreveu livros de gêneros diferentes como Impurezas Amorosas (crônicas), Venho de um país obscuro (Poesias), Contos para ler em viagem, Contos para ler no bar, o romance Chove sobre minha infância, e outros. Qual destes gêneros você prefere? E qual de seus livros lhe deu maior satisfação escrever?


Eu me encontro mais no romance, pois o romance apresenta uma oportunidade de dizer mais, de ampliar as discussões, e exige mais do autor também, pois não é possível escrever uma história com proporções tão dilatadas com um envolvimento pequeno, tanto de tempo quanto de energia psicológica. O romance é, para mim, como eu já disse em alguns lugares, um resumo de todos os gêneros literários. Você pode se valer de outras formas textuais para compor o romance, e esta liberdade me agrada muito. O livro que me deu maior alegria na escrita foi Chove sobre minha infância (2000), meu livro de estréia nacional, onde eu passo a limpo, ficcionalmente, a história de minha família. Foi um livro produzido em apenas um mês de dedicação exclusiva.

5) Podemos entender que seus enredos e personagens partem da realidade, mas que nunca permanecem lá. A realidade é só o ponto de partida. Isso pode confundir um pouco os leitores - pensam que seu livro é "quase histórico", quando na realidade estão lendo pura ficção. Sente-se incomodado por essa confusão de alguns leitores e críticos?

Ficção é por natureza um terreno movediço, você não tem muitas certezas neste espaço. Eu trabalho numa espécie de radicalização do conceito de não-ficção. Tudo parece muito real, e há uma dose de realismo muito grande, mas eu não facilito para o leitor, eu tento enganá-lo, ou criar uma confusão. Que alguns leitores caiam neste equívoco eu acho normal, o que me estranha é que críticos e escritores que escrevem sobre livros valorizem apenas o factual em meus livros, um falso factual. A literatura não é uma área para leitores ingênuos, ela exige uma capacidade imaginativa muito grande. O problema é que a humanidade como um todo está perdendo a sua capacidade de imaginar, porque os meios de comunicação valorizam excessivamente a realidade, então o leitor quer ler tudo como realidade. Isso faz com que a literatura assuma mais do que nunca o seu caráter fantasioso.

6) Que conselho daria aos novos escritores?


Que nunca deixem de ler muita literatura, pois não há outro caminho para a construção de um estilo, de uma voz, de uma visão do mundo, do que lendo a literatura que nos antecedeu. Escrever deve ser sempre um subproduto da leitura, uma forma de unir nosso nome a uma tradição, nem que seja negando-a.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O PAPEL DA LITERATURA


O papel da literatura na vida social é muito importante e atinge de maneiras diversas pessoas com temperamentos diferentes e de profissões diferentes. Além da função estética (arte da palavra e expressão do belo), uma obra literária pode ter várias funções.

Entre elas podemos citar, a função lúdica (divertimento), a função cognitiva (forma de conhecimento de uma realidade objetiva ou psicológica), a função filosófica (questionar, provocar o leitor); a função catártica (que é muito importante, entendendo catarse a purificação de sentimentos, como o próprio Aristóteles falava ou, simplesmente, a libertação de emoções reprimidas) e a função pragmática (pregação de uma maneira de viver).

Não podemos esquecer que no Quixote de la Mancha, o protagonista enlouquece lendo novelas de cavalaria. Ou seja, a literatura pode modificar a maneira de ver o mundo do leitor.
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