sábado, 29 de setembro de 2012

Poema Ítaca de Konstantinos Kaváfis


Isso é escrever poesia, meus leitores, esse poeta é rei na arte da poesia, vejam:

Konstantinos Kaváfis

ÍTACA

Se partires um dia rumo a Ítaca
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares na jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.


Ânfora de Terracota, 400 a.C., Grécia.

domingo, 23 de setembro de 2012

Tiempos y distancias (poema de Marcelino Alvarado)


Desde mi costa salobre
y soñadora
despegan sentimientos
de colores
que compiten en vuelo
con tus sueños,
y se encuentran en un campo
de nubes y silencios...
Sólo el tacto, tu boca,
tu mirada...
sobran las palabras
y el misterio
se adueña de otros tiempos,
que tejieron... en minutos,
una bella sinfonía de recuerdos.

Estas aquí,
estoy contigo,
quiero dibujar tus pasos en mi arena...
quiero ser sombra acompañando tu camino,
quiero ser voz callada en la memoria
y senir tu susurro dentro mío.

Marcelino Alvarado es periodista, poeta y escritor.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

José Domingos de Brito (entrevista)



Nosso entrevistado é José Domingos de Brito, brasileiro, 60 anos, bibliotecário e colecionador de entrevistas de escritores consagrados desde o início dos anos 1980. Brito é o criador do site Tiro de Letra, os Mistérios da criação Literária. Organizador dos livros"Por que escrevo", "Como escrevo", "Literatura e jornalismo", "Literatura e ciência", "Literatura e cinema".

1)      Qual o critério para colecionar as entrevistas?

O único critério é ser entrevista de escritor, particularmente, os literatos. Como sou bibliotecário, minha tendência é ser exaustivo. Até escritor pouco conhecido entra na coleção. Quem sabe, o cara fica famoso depois e eu já tenho suas primeiras entrevistas. Dos famosos, o propósito é ter todas as entrevistas. Se encontrasse algum patrocínio, gostaria de escanear todas e colocá-las à disposição na Internet. Enquanto não encontro, vou colocando no site as que posso, e já tenho lá um lote bem interessante de entrevistas do Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Mario de Andrade, Érico Veríssimo, Clarice Lispector etc. Dos estrangeiros, temos lá Julio Verne, Truman Capote, Hemingway, Garcia Lorca, Ezra Pound e muitos outros.    

2)      Quando e por que começou a colecionar entrevistas de escritores?

Foi em meados da década de 1970. Após um primeiro encontro que tive com Darcy Ribeiro, em Lima (Peru), quis conhecê-lo melhor e passei a procurar suas entrevistas. Reuni umas 50 e no processo de busca deparei com muitas entrevistas de escritores. Como é um gênero que aprecio bastante, passei a colecioná-las.   

3)      Brito o seu site é um verdadeiro tesouro para os novos escritores que navegam nas dificeis águas da criação literária com medo de naufragar. Como surgiu a ideia do site?

Quando minha coleção de entrevistas com escritores chegou a 2 mil, vi que a pergunta “por que você escreve?” era muito recorrente, e passei a colecionar as respostas. Em seguida verifiquei que a pergunta “Como você escreve?” também era muito freqüente, e iniciei outra coleção com as respostas. Nos dois casos, o que detonou mesmo o inicio destas coleções de respostas foi encontrar um livro francês, em 1985, intitulado “Porquoi écrivez-vouz”, editado pelo editores do jornal “Liberation”, contendo mais de 400 respostas. Você não imagina a minha surpresa e contentamento em encontrar tantas respostas de uma só vez. Assim, publiquei, em 1999, “Por que escrevo?”, o 1º volume dos Mistérios da Criação Literária, com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Poucos anos depois sou novamente surpreendido com outro livro encontrado num sebo, publicado em 1937, intitulado “Comment ils écrivent”, contendo 50 respostas à essa pergunta. Pensei: alguma coisa está me empurrando para estas coleções. E assim, juntando com mais de 50 respostas que eu já tinha, publiquei, em 2006, o 2º volume: “Como escrevo”. Mas, bem antes, em 1995, eu tinha um amigo com um site www.capivara.com.br dedicado ao entretenimento e  literatura. Conversamos sobre a inclusão no site destas duas coleções de respostas e assim foi feito, aumentando substancialmente o número de visitas ao site.

O meu site “Tiro de letra” eu só vim a criá-lo em 2007, contendo estas respostas, bem como os depoimentos dos escritores sobre as relações da literatura com outras áreas: jornalismo, cinema, política, religião, música, psicanálise etc. O empurrão decisivo para feitura do site foi o apoio que eu recebi, de novo, da Secretaria de Cultura para a edição da coleção Mistérios da Criação Literária, em 5 volumes (1 - Por que escrevo?, 2 – Como escrevo?, 3 – Literatura e jornalismo, 4 – Literatura e Cinema, 5 – Literatura e política).  Como incremento editorial, acrescentei, além dos depoimentos dos escritores, uma ampla bibliografia sobre os temas enfocados em cada volume. Hoje todo esse material está disponível no site, além de informações úteis aos escritores e, particularmente, aos iniciantes.             


4)      Você gosta de escrever? Sobre que assuntos escreve?

Não sou escritor literato; não tenho o dom da imaginação artística para criar personagens e situações, mas gosto de escrever. Ultimamente venho exercitando essa prática através de relatos pessoais e familiar. Mantenho no site duas séries memorialísticas: A grande família, um relato cronológico da história da minha família (http://www.tirodeletra.com.br/contos/Cerimoniadeumcasamento.htm), e outra: Biografia profissional  (http://www.tirodeletra.com.br/contos/BiografiaProfissional-Capa.htm), relatando todos os empregos que tive até agora. Nas duas séries eu assino Cícero da Mata devido ao fato de não me assumir como escritor e, também, para dar a impressão que o site não é feito por uma só pessoa. Com isso espero estimular outras pessoas a mandarem colaborações para o site. Até agora não são muitas as contribuições, mas têm vindo.  Respondendo sua pergunta, o que mais tem me envolvido no trabalho de escrever é o caráter memorialístico. Gosto, também, de especular sobre a criação literária, e tenho escrito alguns textos perguntando se Nietzsche foi um literato-filósofo ou foi um filósofo-literato; se Glauber Rocha foi um cineasta-literato ou literato-cineasta; se Darcy Ribeiro foi literato-antropólogo ou antropólogo-literato e assim por diante com autores como Gilberto Freyre, Sartre, Euclides da Cunha e Umberto Eco. Estas especulações estão lá no site assinadas por Euclides Dourado, um nome que arrumei para passar a idéia de mais colaboradores. O único texto que eu assino com meu nome é o relato dos encontros que tive com Darcy Ribeiro nas décadas de 70, 80 e 90 (http://www.tirodeletra.com.br/contos/EncontroscDarcyRibeiro.htm). Para não dizer que nunca me atrevi a escrever literatura, há uns 5 anos fiz uma mistura de conto e crônica sobre a vida de um “Cão carioca” (http://www.tirodeletra.com.br/ensaios/Paixaocanina.htm) e mandei para um concurso realizado pelo jornal “”O Globo”. Não fui contemplado, o que me certifica que esta não é minha praia. 
   
5)      Seu objetivo ao publicar as entrevistas é guiar os novos escritores ou, como bibliotecário, realizar um trabalho para organizar o material de entrevistas para consulta?

Digamos que estas duas finalidades se complementam. Como bibliotecário, quero dispor desse material ao público. É um material publicado em jornais e revistas, que logo se perdem. Assim faço um trabalho de resgate e divulgação mais ampla desse material.  Porém, está claro que se trata de um tipo de publicação muito útil para os novos escritores.

6)      Pode citar os títulos de seus livros  preferidos?

Gosto muito do José J. Veiga, com quem tive contatos e me correspondi na década de 1980 e 1990. Tenho todos seus livros autografados. Gosto também do José Saramago, que, coincidentemente, foi introduzido no Brasil pelo Veiga; das crônicas do Rubem Braga e das memórias do Pedro Nava. Mas falando de livros preferidos, tem o Memórias de Adriano, da Marguerite Yourcenar; A sangue frio, de Truman Capote e as biografias de Chatô, de Fernando Morais  e Garrincha, de Ruy Castro.  Como você vê aprecio o estilo despojado de escrever, do escrever como se fala, da biografia, do memorialístico, da grande reportagem. No momento estou lendo as “reportagens” de Laurentino Gomes: 1808, 1822 e aguardando 1888. 


7) Entre os novos autores quais estão se projetando nacionalmente com mais força?

São tantos não é? Com a facilidade da Internet, os blogs, a proliferação de oficinas literárias. Tudo isso vai resultar numa boa safra de novos escritores. Mas tem uns que já estão se tornando conhecidos do grande público, como o Fabrício Carpinejar, Daniel Galera e Marcelino Freire. Temos também o Ronaldo Correia de Brito, que não é tão novato e lançou  o excelente romance Galiléia (Alfaguara, 2008); o Marcelo Moraes Caetano, meu amigo e colaborador do site, que vem escrevendo copiosamente em diversos sites e atualmente é o ghost writer da Elke Maravilha (estão escrevendo uma biografia) e o Jorge Fernando dos Santos, outro colaborador do nosso site, que também não é novato e lançou recentemente a coletânea de contos Caminhante noturno (2010) pela editora Terceira Margem. 

8)  Das entrevistas que já leu quais achou mais interessantes?

Todas as entrevistas publicadas pela revista Paris Review e republicadas em livro pela editora Companhia das Letras (Os escritores, 1988 e Os escritores 2, 1889). São mais de 30 “monstros sagrados” da literatura universal esmiuçados em longas entrevistas. No plano nacional, temos as entrevistas comandadas por Homero Senna, publicadas pela editora Civilização Brasileira (Republica das letras, 3ed. 1996) e três volumes de entrevistas comandadas por Silveira Peixoto nas décadas de 1930 e 1940, publicadas pela Secretaria de Cultura de São Paulo. São mais de 60 entrevistas de quase todos os escritores brasileiros importantes da época. No entanto, as mais interessantes são aquelas de escritores que não gostam de dar entrevista, como Guimarães Rosa. Tenho 5 entrevistas dele, duas das quais estão publicadas no site.  


9)  Qual é respostas dos leitores do site Tiro de Letra?

São as mais diversas possíveis. Tenho recebidos apoios e elogios esfuziantes de apreciadores da literatura; pedidos de endereço de escritores; propostas de edição de textos de escritores iniciantes e umas poucas propostas de colaboração. Espero que com essa entrevista o número de colaboradores se amplie.   

10) Pelo que você fala, vemos que o site é mantido só por você e sem patrocínio ou publicidade alguma. Diante disso, quais as perspectivas de manutenção do site.


Pois é, do jeito que está não pode continuar. Agora ando correndo atrás do lançamento do vol. 6 da obra Mistérios da criação literária. Neste volume vamos enfocar as relações da Literatura com Música. Estou apostando neste lançamento como forma de dar maior visibilidade ao site e a obra. Vejamos se é possível. Mas em seguida vou promover uma mudança no site, que hoje está parecendo uma "bodega literária" de beira de estrada. Esta aparência foi proposital, mas hoje vejo que está um pouco desorganizada. Temos alguns bons produtos que precisam ser melhor expostos. Preciso encontrar um bom webdesinger para me ajudar a fazer isto, mas esbarro sempre na falta de recursos. Como bodega, preciso também monetizar alguns serviços para angariar fundos. Vamos instalar uma "lojinha" para vender os volumes, prestar alguns serviços e tentar conseguir alguma publicidade. Em março o site completa 3 anos que está no ar, e precisa ser profissionalizado para seguir adiante. Vejo que existe condições objetivas para isso, pois conta com 15 a 20 mil visitas/mês. Por outro lado, eu não sou propriamente um cara versado nas artes&manhas da  Internet e da informática. Sou aprendiz, mas vamos engatinhado com a ajuda de amigos amantes da literatura. Enfim, esse é o ano da virada.  

domingo, 16 de setembro de 2012

A fachada e os fundos" (Resenha)


Recebi o livro de poemas de Edson Falcão, “A fachada e os fundos”, editado pela dezoito zero um cultura e arte, em 2010. É um livro com 44 poemas de cunho contemporâneo, que parece dar olhares de relances sobre o homem inserido no meio urbano. Perdido talvez, entre o mundo subjetivo e o império da objetividade que o obriga a afastar os olhos de si mesmo e focá-los no exterior.

No poema “Não sei quando” fala: “Não sei quando/ o mundo/ nasceu intencionalmente/ sei que pode ter nascido materialmente/ lá no quintal de casa/ há dez anos e cento e oitenta poemas/ mais ou menos”.  Imediatamente o poeta tenta entender a sua realidade e continua dizendo na segunda estrofe: “cheguei munido de textos/ carne osso e significados/ história dentro de histórias (...)”.

Sua poética não tem metáforas simples, nem flores no vergel. É a poética dos jovens que nasceram depois que os ideais dos hippies se transformaram em cinzas. Receberam como herança um mundo consumista, onde o poeta parece não ter lugar. É a solidão sem palavras procurando ecoar em alguém: “o que você talvez espere/ é algo como as marcas do calendário/ que estão a sua espera”. Parece a síntese das horas monótonas e vazias. Só marcas no calendário.

Na introdução, o jornalista, escritor e poeta Jaques M. Brand fala no prefácio que Edson Falcão tem “legitimidade para interessar o leitor que busca, fora da feira literária das vaidades, o fazer poético autêntico”. Ou seja, Edson Falcão é um autêntico poeta, que não escreve só para ser aplaudido, nem satisfazer a vaidade do ego, escreve como todo autêntico poeta, por necessidade de expressão. Poeta escreve da mesma maneira que respira, instintivamente, para não morrer.

Na visão de Jaques M. Brand, com esse livro, “encontramos o artista no inteiro domínio dos seus meios, a ingressar na fase em que se dispensam os mestres...”. Edson nasceu em 1979, em Pitanga, Paraná, e é um poeta jovem estruturando o próprio caminho. Vejamos o poema “O rato que rói meu rosto – 2”:
um homem vindo do interior
cuida de seu interior
como a moça cuida do quarto de seda
guarda segredos como louça
grosso mar de palavras
nexo para usar em casa

 de vez em quando fala e inventa coisas

Resenha publicada no ICNews - coluna Livros de Isabel Furini.

domingo, 2 de setembro de 2012

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