quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

COMO ESCREVER LIVROS - CONTOS E CRÔNICAS














Inciará em 01 de março, 17 horas, a oficina "Como Escrever um livro: romance", que será orientado pela escritora Isabel Furini.

Análise de: construção de personagem, cenário, tempo, foco narrativo, voz do narrador,diálogos, enredo e linguagem literária.

Em 06 de março, iniciará a oficina: "Como escrever contos e crônicas".

COMO ESCREVER LIVROS - CONTOS E CRÔNICAS


Na oficina serão lidas e comentadas crônicas de autores consagrados. Também serão
analisadas as diferenças entre crônica e conto. Assuntos que merecem uma crônica. A função do cronista. Os segredos do gênero. O ritmo da escrita.


Professor: ISABEL FURINI

Data: 06 de março a 26 de junho - Horário: 3ª feiras - 14h30 às 16h30 -
Inscrição: R$ 30,00 - Preço: Parcelas mensais R$160,00
Dia(s) Semana: 3ª feira.

Ambas oficinas serão ministradas no Solar do Rosário, fone (41) 3225-6232.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

José Feldman (Entrevista Comigo Mesmo)



Trajetória de vida, desde o nascimento, estudos, etc.
Nasci em São Paulo, capital, a 27 de setembro de 1954. Terceiro e último filho de meu pai, representante de móveis, que havia nascido em um cidade pequena da Romênia e veio ao Brasil, fugido da guerra mundial, por ser de origem judaica. A princípio ele morou em Belo Horizonte, onde casou com minha mãe, e lá tiveram um casal de filhos, meus dois irmãos mais velhos (um casal). Teve um jornal que provocou seu fechamento e a prisão dele devido a idéias de esquerda, mesma ocasião em que Monteiro Lobato havia sido preso pelo seu livro O Poço do Visconde, e se conheceram na prisão, ambos jogadores de xadrez, jogavam partidas entre si, com tabuleiro e peças montados com papel.

Eu estudei a princípio, o primário (na época era 5 anos) em uma escola judaica, próxima a casa onde morava. Depois havia o exame de admissão, era uma espécie de vestibular para ingressar no 1o. ano ginasial (atualmente o primário e o ginásio são um só), já tiveram vários nomes, 1o. grau, agora Ensino Fundamental. No meu tempo havia uma grande exigencia, e fazíamos um vestibular para mudar para o ginásio, que era 4 anos, ao final do que se passava automaticamente para o científico, como era denominado estes últimos 3 anos na época, pouco antes, quando minha irmã fez era chamado de clássico, depois os nomes mudaram para científico, 2o. grau e secundário, ou mais algum que não recordo.

Fiz o ginasial, repeti o último ano e ingressei num curso técnico em colégio particular equivalente ao 2o. grau, de Laboratórios Médicos, mais parte passou a se chamar Patologia Clínica, que era 3 anos com matérias do científico mais as matérias técnicas. Nesta época fiz estágio em um laboratório e ao formar-me ingressara no Hospital das Clínicas (época da meningite), a princípio como auxiliar de médico (o mesmo que um auxiliar de laboratório com algumas responsabilidades extras) e depois efetivado como técnico de laboratório. Trabalhei cerca de 14 anos lá. Ingressei na Fundação do Fígado, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Silvano Raia, fazia transplantes de fígado, onde fiquei cerca de 4 anos.
Ah, esqueci de mencionar que com cerca de 10 anos de idade trabalhei com meu pai, ajudando–o em tarefas ao alcance de minha idade em escritório, ele estava já muito doente. No ginásio trabalhei como recepcionista em escritório de advocacia.
Trabalhei como digitador em Sistema Holístico de Saúde, em Laboratórios de Análises Clínicas, em São Paulo. Em Curitiba trabalhei como recenseador e carteiro. Em Ubiratã, em dois censos como supervisor do IBGE. Me virei como digitador de trabalhos escolares, orientador de elaboração de monografias e teses.

Tudo isto nos faz voltar algumas recordações. Lembro que quando me formei no ginasial, foram escolhidos alunos para cantarem na colação de grau, eram 4 vozes, e na quarta eram eu e um colega, o Noé . E, a nossa voz nunca chegava a vez, ficamos dias e dias no auditório, enquanto os outros cantavam, nós jogavamos batalha naval, aqueles em papel. Todos cantando e nós lá: “A4, M3, afundou couraçado, afundou submarino”. Foi muito divertida a situação, até que fomos convidados a se retirar.
Nas minhas tardes de criança,
brincadeiras de corrida.
Hoje danço em outra dança,
danço no circo da vida.

Desde 1977 a 1989 e depois de 1992 a 1994 fui diretor do Departamento de Xadrez do ICIB (Instituto Cultural Israelita Brasileiro), árbitro, professor e organizador além de relações públicas. Consegui de cerca de 12 sócios (flutuantes) elevar o numero para 130. Levei as equipes do clube da 3a. Categoria para a 1a. Categoria. Auxiliar de diretor do Xadrez Club Sorocaba, em Sorocaba por 2 anos, vice-diretor do Clube de Xadrez do Clube de Regatas Tietê. Sobre este tempo do Xadrez já pensei até escrever um livro, pois tem “causos e causos” aos montes., como uma vez que iamos jogar o torneio interclubes em Caiobá, mas um acidente parou a estrada por horas. Andando encontramos uma outra equipe e o que fazer para passar o tempo? No asfalto montamos os tabuleiros de xadrez e ficamos jogando partidas, no meio da estrada.

Tinha e tenho uma fome insaciável de conhecimento. Falar de mim é um longo caminho a ser percorrido.

Quando me formei em Laboratórios Médicos, fiz curso de pintura e de dramaturgia. Depois curso de italiano e inglês na Associação Casa de Cultura Afro-Brasileira (mais ou menos isto, não lembro o nome correto, nem existe mais). Depois continuei o inglês no Instituto Roosevelt e Instituto Cultural Norte Americano, e um outro instituto que o dono deu o golpe, fechou a escola e sumiu com nosso dinheiro.

Fiz espanhol livre no Instituto Ibero Americano, curso de Filosofia Oriental na Associação Palas Athena, Desinibição e Criatividade no Instituto Dynamics Cymel, que ficava no Conjunto Nacional. Ao final deste curso, saímos todos os alunos (desinibidos) a dançar e pular no meio da Avenida Paulista. Me lembro de uma aula que um se fazia de cego e outro conduzia ele, para mostrar a confiança, e a gente sacaneava um monte os que estavam se fazendo de cegos.

Fiz mais um pouco de teatro na Escola Macunaíma, inclusive ensaiei uma peça que nunca vingou. Daí comecei a me dedicar a literatura. Na Oficina da Palavra (Casa Mário de Andrade) fiz Curso de Haicai com Eunice Arruda, como montar um romance com Mario Amato, e de ficção científica na literatura e no cinema, com André Carneiro, fiz 3 vezes este curso. Na Oficina da Palavra participei de Saraus litero-musicais. Não recordo quem era (também já faz tempo!), era um escritor, acho. Sentava numa cadeira especial no canto, lembro que usava uma daquelas bengalas trabalhadas, eu acho que era uma águia, enfim, ele iniciava sempre contando histórias do Pedro Malasartes. Todos participavam, falavam poesias de si ou de poetas famosos, e encerravamos com um salgadinhos e refrescos.

Para você ver como o destino é curioso. Na terceira vez, eu nem ia fazer, o André me ligou e desesperado falou que só faltava um para completar a oficina, para poder iniciar. Ele disse para eu aparecer umas duas aulas só para ter quorum. Aceitei, o André sempre foi muito divertido. Lá fui eu, e no fim fiz o curso inteiro, por um detalhe, neste curso conheci uma garota que adorava literatura também e tinha os mesmos gostos musicais que eu (rock, blues), e namoramos (isto foi em 1994). Nos casamos e estamos juntos até hoje. Agradecimento eterno ao André por isto. Ele mora em Curitiba, já não está bem de saúde, mas nos falamos sempre. O André foi quem me animou a escrever contos, dizia que eu tinha um estilo muito próximo do Edgar Allan Poe.

Ah! A oficina era o seguinte: combinavamos escrever um conto qualquer, tirar várias cópias e depois levar em aula para se questionar sobre ele. Cada um dava sua opinião, e o André falava o que faltava ou que tinha demais. Um fato engraçado que ocorreu, é que o André leu um conto do Kurt Vonnegut Jr., que ele adorava um monte. Bem, descobrimos algumas falhas no conto, e o André ficou doido da vida, era um de seus escritores preferidos e no final ele disse mais ou menos isto: “Kurt Vonnegut Jr. é o máximo, menos neste conto aqui”. O jeito que falou na hora, caímos na gargalhada.


O conto que escrevi nesta oficina era Espelho da Alma. Se passava na Dinamarca, e um pintor que buscava a perfeição no quadro, aconteceu algo insólito e ele virou o próprio quadro.

Ao final do curso, nos juntamos em uma sexta-feira em um bar frente ao curso para tomar cerveja e bater papo. Muitas coisas ocorreram nele, e eu escrevi um conto sobre isto, chamado “Uma Sexta-Feira Além da Imaginação”, um conto de ficção fantástica muito doido, onde a Oficina da Palavra era a nave-mãe, o bar era um labirinto, os frequentadores do bar eram seres alienígenas, etc. Enfim, só lendo. Como é curto ao final da entrevista coloco-o.

Fiz a Oficina de Trovas com o Magnífico Trovador Izo Goldman, um grande amigo e incentivador até hoje. Pouco após fui Diretor Cultural de uma Instituição Filantrópica (ICIB), e o Izo deu uma oficina de trovas lá, embora como diretor cultural eu fazia outra paixão, trazia músicos não conhecidos para destaque em apresentações num salão meio que improvisado, o que lhes rendeu alguns contratos, e a mim o prazer de ve-los crescerem

Frequentei a Casa de Portugal onde se reuniam os trovadores de São Paulo sob a batuta de Izo Goldman. eram tardes agradáveis com Tudo em Trovas e Nada em Trovas. Recordo que numa destas reuniões o Izo no Nada em Trovas proferiu uma palestra sobre a origem dos perfumes. As reuniões sempre encerravam com um lanche, com salgadinhos, doces e sucos trazidos pelos trovadores. Eu era frequentador da casa do Izo a quem tinha e tenho profunda admiração, e ele me contava as histórias ocorridas em concursos, muitas engraçadas, e mostrava seus troféus (centenas), que eu até brincava se ele não queria me contratar só para limpar eles. Eram tantos que quando acabasse de limpar o último já teria que limpar o primeiro, e até lá já teria mais alguns.


Comecei a fazer em São Paulo Faculdade de Biologia, numa faculdade que já não existe mais no Ibirapuera (Princesa Isabel, que ficava atrás do Shopping Ibirapuera), e Psicologia, na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), na Alfonso Celso com Av. Santo Amaro, e eu demorava 2h10 para chegar na primeira, e nesta segunda eu pegava um ônibus até a Joaquim Floriano, e de lá andava a pé cerca de 2 kms, pois tinha tanto ônibus, que se fosse com um deles demoraria mais tempo que a pé. Ir de carro, nem pensar. Ao voltar da faculdade FMU, pegava carona com um colega, que morava no Itaim, e me deixava na São Gabriel, que sempre perguntava se ele já fez auto-escola alguma vez. Dirigia muito mal.

Eu me encontrava com o Antonio Fagundes no Restaurante Gigetto, no Bexiga. Na época que ele fez Cyrano de Bergerac, ele ia até o restaurante ainda trajado como tal, e a gente mexia com ele, por isto. Era muito divertido. Também tive amizade com alguns cineastas, que me levavam a freqüentar o bar que havia em frente ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde conheci muitos atores, entre eles a Françoise Fourton, que eu era apaixonado, e depois que a conheci a paixão virou fumaça. Como a televisão muda as pessoas.

Conheci um poeta francês que tinha parentesco com Paul Valery, e me deu um livro dele (em Frances claro), com dedicatória e tudo (na verdade este foi meu primeiro livro com dedicatória, e naõ do Izo). A gente ia comer num restaurante que havia numa Galeria na Avenida São Luis e ficávamos conversando de poesia e música erudita, que ele adorava e eu também.

Meus dois primeiros discos quando minha prima me deu uma vitrola Philips de presente, daquelas que parece um bauzinho, que você abre e a tampa vira duas caixinhas de som, meus pais me deram um LP, Jóias da Opereta Vienense, e um compacto do Jean Carlo, aquele cantor com deficiência visual, se eu falar que é cego estarei discriminando, cantando Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rollings Stones, do outro lado do compacto era Nunca meu amor. Os compactos só tinham duas músicas, exceto os compactos duplos que eram 4. Meu primeiro foi o Johnny Mathis, cantando Aquarius (aquela introdução do filme Hair, dos anos 60). Meu pai me ensinou a gostar de música erudita, e durante muitos anos só escutava isto, e comprava discos eruditos. Operetas até aguento, mas uma ópera inteira nunca tive muita paciência, até hoje. Tenho vários DVDs de óperas, mas nunca consegui assistir um inteiro.

Com o passar dos anos fui tomando gosto pelo MPB: Elis Regina, recordo dela, e do baque que senti quando da morte dela. Acompanhei o caminhão que carregava ela na av. Rubem Berta. Jair Rodrigues, Chico Buarque. O Ney Matogrosso era gente fina, e conversamos quando ele tinha o Secos & Molhados, ele ensaiava ao lado de onde eu fiz o curso de Laboratórios, na Rua Cincinato Braga junto com a Brigadeiro Luiz Antonio, aliás ele tinha feito também um curso de laboratórios. Taiguara passou em minha vida, e mesmo tantos anos após a sua morte, ainda recordo e escuto suas músicas ou vejo seus vídeos. O meu apelido era Taiguara, por acharem eu muito parecido com ele. Alberto Marsicano, é um tocador de cítara que aprendeu com o Ravi Shankar, era uma figura, mas muito divertido. Zen demais para o meu gosto.

O Sócrates, não o filósofo, o jogador. Quando ele estava começando no Corinthians, fazia residência no Hospital das Clínicas, e como tinha campeonatos de futebol entre os departamentos do hospital, nós éramos Laboratórios, tinha Enfermarias A, B e C, Neurologia, etc., conseguimos pegar ele para jogar pela gente por livre e espontânea pressão. Ele jogou um jogo, memorável... foi nossa única vitória. A gente só tomava goleada. O que importava é que tudo acabava em churrasco, e os mortos de fome do laboratório iam pelo churrasco, pois ninguém jogava nada. A gente se denominava Numerosas Bactérias Futebol Clube. Pois quando se fazia exame de urina ao microscópio, as vezes tinha diversas bactérias, e estas bactérias não tinham um rumo, corriam para todos os lados e se chocavam. Era assim que éramos no campo. Mas além da vitória acima, a outra grande vitória é que perdemos para a Ortopedia só por 8x0, geralmente era 13, 14. E quando acabava o jogo – Graças a Deus! – parecia que era a gente que havia ganho o jogo, de tanta alegria de ele ter terminado.

Detalhe: Não gosto de futebol. Na verdade, eu gostava, torcia para o Atlético Mineiro, e o meu amigo, atual padrinho, é São Paulino, eu não era chegado em jogo no estádio, mas ele era fanático, e sempre me levava ao Morumbi onde tinha cadeira cativa, e toda vez que o São Paulo jogava e eu ia junto, o time perdia, e ele ficava fulo dizendo que eu era pé frio. Copa do Mundo é outra história, é a camisa do Brasil, daí me penduro no jogo. Começo assistindo desde o primeiro tempo e acordo geralmente no meio do segundo tempo. A idade já não ajuda.
Alguns anos depois, ainda fiz cursos livres de Contabilidade para pequenas empresas, secretariado moderno, técnicas agropecuárias, administração de pequenas e médias empresas. Atualmente curso administração de pequenas empresas. Pretendo ainda, em 2013 ingressar na Universidade Estadual de Maringá e fazer Engenharia Ambiental.

Entidades a que pertence?

– Membro da Casa do Poeta Lampião de Gás (na época sob a presidência do sr. Rossi – não recordo o primeiro nome dele, no momento)
– Membro da Ordem Nacional dos Escritores.
– Vice-Presidente da Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI) 2001 a 2003 e Diretor Fiscal da mesma, em 2009.
– Membro da União Brasileira dos Trovadores (UBT) de São Paulo, até 2000.
– Delegado Municipal de Ubiratã da UBT/PR (2001 – 2010)
– Consul Municipal de Ubiratã da Associação Poetas del Mundo, até 2010.
– Consul Municipal de Maringá da Associação Poetas del Mundo, desde 2011.
– Vice-secretário Estadual do Paraná da Associação Poetas del Mundo, desde 2011.
– Membro da União Hispanoamericana de Escritores (UHE)
– Escritor Imortal da Academia de Letras do Brasil (ALB), pelo Estado do Paraná, Cadeira n.1, Patrono: Paulo Leminski, desde 2009.
– Doutor Honoris Causa, a nível nacional e Internacional da ALB.
– Presidente Estadual do Paraná da ALB, 2009-2012.
– Vice-Presidente do Conselho de Ética da ALB, desde 2009.
– Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz (AMORC)
– Ordem dos Cavaleiros Templários
– Ordem Sagrada do Templo e do Graal
– Pró Vida, Integração Cósmica.



Em 2007 criei o blog http://singrandohorizontes.blogspot.com divulgando os escritores brasileiros, principalmente desconhecidos, e a Revista Virtual Singrando Horizontes, o que me valeu uma distinção nos Anais da Academia de Letras Maçonicas, pelo escritor Valter M. De Toledo, de Curitiba.

Como é estar casado com alguém que também escreve? Existe competição?

Deixe eu aproveitar o espaço para fazer um pouco de propaganda de minha cara metade, antes de responder. A minha esposa, Alba Krishna, possui doutorado em letras, é poetisa e escritora de romances. Participou de Festivais de Teatro na terra dela com peças vencedoras, vencedora em Concurso de Poesia, uma das fundadoras da Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI), foi colunista de artigos de música no jornal de Londrina, tem romances de mistério (nenhuma publicação).

Agora vamos a pergunta. Viver com outro escritor é bom por um lado e ruim por outro. Conversamos sempre de livros, de autores, de poesias, de romances, mas existe um certo antagonismo entre nós. Talvez inconscientemente um quer ser melhor que o outro. É uma situação engraçada, pois enquanto um procura suplantar o outro, procura auxiliar em tudo. Tipo denorex, parece que é mas não é. A minha vantagem é que ela não escreve trovas, e a vantagem dela é que eu não escrevo romances (rsrsrs). Mas a bem da verdade, é que ambos aumentamos em muito nossa bagagem literária.

Como era a formação de um jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?

Havia uma exigencia maior do aluno. Só passava realmente quem estudava, e o professor era a autoridade a ser respeitada. Infelizmente, com o passar das décadas o governo parou de valorizar a figura do professor, depreciando-o de tal modo que aos olhos da sociedade ele não é mais aquele herói que na época gostariamos de ser. O professor, pela sua bagagem e pelos seus ensinamentos deveria ser sempre a figura central, respeitada e valorizada. E se não existissem mais professores? Como seria o mundo?

Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever?

Meus primeiros livros, além daqueles clássicos infantis que toda criança lê, foi a coleção de Monteiro Lobato. Era e ainda é apaixonante suas histórias. Meu pai me levava na livraria e eu escolhia o que queria. Meu segundo livro, acredite se quiser, em papel couchê, capa dura, chamava-se o Romance da Terra, era de arqueologia e paleontologia, assuntos que sempre fui fascinado. Com meu irmão íamos nas grandes livrarias, mas não comprávamos nada, pegavamos um livro, liamos um capítulo, e voltavamos outro dia e liamos outro capítulo, ou o mesmo livro em outra livraria. Raiva havia quando não encontrávamos mais o livro e ficávamos sem saber o final da história. Machado de Assis era cativante: Quincas Borba e Ressurreição eram meus favoritos. Com o passar dos anos comecei a ler livros estrangeiros, e eu era um rato de biblioteca, lia desde manhã até a noite. Pegava onibus para o colégio ou para o trabalho, mas sempre com um livro, onde eu lia, seja sentado, ou mesmo em pé no ônibus. Cativaram-me Herman Hesse (Sidharta; Rosshalde), Ernest Hemingway (O Velho e o Mar), Dostoievsky (O Jogador; Noites Brancas), os Irmãos Karamazov deste último nunca consegui ler inteiro. Nos anos 60 Mikhail Sholokov escreveu o Don Silencioso, ganhador do prêmio Nobel, não recordo o ano, eram 4 volumes de cerca de 300 páginas cada um. Li em uma semana, eu não dormia à noite, não conseguia largar o livro. Daí foi uma sucessão de escritores entre brasileiros e estrangeiros. Nos anos 70 e 80, O Apanhador do Campo de Centeio, de J. D. Salinger; O Destino Viaja de Ônibus, de John Steinbeck; 1984, de George Orwell.

Como começou a vida de escritor?

Na cama (rsrsrsrs). Eu tive que fazer umas cirurgia, naquele quarto de hospital sozinho, aquelas paredes brancas, o silêncio, o dom poético surgiu e comecei a escrever poesias.

Você encontra muitas dificuldades em obter livros em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?

Encontro, assim como grande parcela da população. Os livros são muito caros. Não querendo desmerecer o escritor (afinal sou um), mas o livro deveria se não gratuito a um preço ao alcance de toda a população. Para mim literatura faz parte de nossa cultura, e a cultura pertence a todos. Conheço tantos escritores que possuem textos de qualidade invejável acima de muitos famosos, mas que distribuem seus livros gratuitamente. Viver do dinheiro suado da população, Paulo Coelho, Luis Fernando Veríssimo, e centenas ou milhares de outros me perdoem, não é cultura, é comércio.

Como começou a tomar gosto pela escrita?

Meu pai sempre me incentivou a isto. Ele foi meu maior mestre, meu pai-herói.

Possui livros escritos ?

Espero que antes de eu morrer, tenha condições de deixar ao menos um livro, nem que seja do agrado de um só leitor, já me sentirei realizado. Minha mãe não conta, ela aprecia tudo que faço.

Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Primordialmente, sim. Sem ela eu não seria ninguém atualmente. Foi graças a ela que comecei a ficar em evidência. Criei o Boletim Literário Cultural Singrando Horizontes e o blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes (http://singrandohorizontes.blogspot.com), há uns 4 anos no ar, com mais de sete mil postagens.

Ah! Esqueci de dizer qual é o meu trabalho. Divulgação! Divulgação dos valores literários. Por que? Seria a sua pergunta. Eu gosto de escrever, mas achei que mais importante do que eu promover a si próprio, seria divulgar o nome de tantos outros escritores para que não se percam no anonimato, seja pela memória fraca do povo, seja pela falta de condições de divulgarem seus textos, etc. Em vez de deixar um livro meu criando teias de aranha em algum sebo, batalhar pela nossa literatura.

Enfim, a internet me possibilitou o blog que está a todo vapor, e a publicação de vários e-books (disponíveis no blog para download):
– Santuário de Trovas 1, 2 e 3 (são livretos com trovas do Brasil inteiro em imagens)
– Almanaque Literário “O Voo da Gralha Azul” números 1 a 8
– Paraná Trovadoresco vol. 1 e 2
– São Paulo Trovadoresco vol. 1

Anteriormente, distribuído por e-mail houve o Boletim Literário Cultural “Singrando Horizontes”, foram 13 números.
Feldman, sábio profeta,
entre os homens cria “pontes”.
Vem... disfarçado de poeta
e vai... “Singrando Horizontes”!
Vânia Ennes – Curitiba/ PR

Vai, Singrando Horizontes,
O infinito é a ambição
rumo aos mais distantes montes,
rumo à imaginação!
Sinclair Pozza Casemiro – Campo Mourão/PR

CRIAÇÃO LITERÁRIA

Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um "clic" e a musa pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial ?

Vou responder em uma palavra: Clic.
Ambiente?: Lugar tranquilo, em ambientes barulhentos eu não consigo nem me ouvir.
Fiz de você minha musa,
minha vida e coração,
meu pijama, minha blusa,
Minha tábua de salvação.

Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

É preciso ter vocação, mas é necessário ler muito de diversos escritores, sejam nacionais ou estrangeiros, perceber o modo como escrevem, como montam seus textos. Concordando com as palavras do escritor maringaense Alberto Paco “vocação sem conhecimento não leva a lugar nenhum”.

Como é que você concebe seus e-books? Quanto tempo você leva para escrever um e-book?

Varia, conforme o que me proponho a fazer. Geralmente a idéia já tenho formada, depois é só trabalhar em cima dela. Pelos que já fiz, podem ser de dois dias a 1 semana. O São Paulo Trovadoresco vol.1 fiz em 1 dia. Pintou a idéia, e fiquei em cima até finalizar. Mas, são trabalhosos em geral. A Revista O Voo da Gralha Azul a idéia do número vai amadurecendo nos lugares mais inusitados. Daí quando começo, demora cerca de 1 semana, pois faço várias revisões no layout e no texto.
Você é a Gralha Poeta
que leva nossa poesia
ao mundo, em que o grande esteta
criou com tanta harmonia!
Nei Garcez – Curitiba/PR

Como é o processo de pesquisa para a escrita de seus e-books?

Internet, livros, revistas, jornais, artigos textos enviados pelos escritores, enfim, todos os meios que pode-se obter de textos escritos

Traduzindo, o teu trabalho,
com guarida ao bom leitor,
tão completo, e nada falho,
só enaltece o escritor.
Nei Garcez – Curitiba/PR

No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria?

Porcaria é uma coisa relativa. O que para muitos é magnífico, para outros é porcaria. Tem alguns escritores que são o máximo em nossa literatura ou na estrangeira, que acho que não valem nada, apenas tem poder aquisitivo e/ou “pistolões”. Não vou dizer seus nomes, por uma questão de ética. Estou parecendo político, enrolei e não disse grande coisa. Porcaria é isto, um texto que não tem uma teia entre o começo, meio e fim.

A LITERATURA E O ESCRITOR

Existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?

Importante é a descoberta. É buscarmos novos nomes que não estão em evidência na midia. Existem muitos bons escritores nos mais variados campos, da ficção ou não ficção. Quando me tornei Presidente Estadual pelo Paraná da Academia de Letras do Brasil, descobri muitos nomes de quilate, como Átila José Borges, de Curitiba, não só como cronista mas como contista também. Sinclair Pozza Casemiro, de Campo Mourão, que fora reitora da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM), que possui uma enormidade de publicações entre estudos indígenas, trovas e outros. Nilto Maciel, do Ceará, um nome que deveria mais do que muitos estar em evidência em nossa literatura, contista, poeta, romancista e cronista da História da Literatura Cearense. O Nilto me permitiu entrar no mundo literário cearense, o que me deixou maravilhado, por não saber da gama de escritores de qualidade que se originam de lá. Atualmente, aqui em Maringá um que admiro muito, não é Machado, mas é Assis, o Antonio Augusto de Assis (ou A. A. de Assis, como é conhecido). Muitos são os nomes que acredito que todos devem conhecer. A emoção da descoberta é indescritível.

Há lugar para a poesia em nossos tempos?

Sempre. Ontem, hoje e amanhã. O poeta é peça fundamental em todos os tempos, pois faz com que viajemos por mundos que nunca imaginamos, ou que imaginamos e nunca sentimos, ou mesmo mostra a realidade nua e crua. Não importa como escreva, o que vale é o final: que sintamos o que há em suas palavras, seja alegria, tristeza, revolta, amor, ódio, etc. A poesia é a vida, é o que nos rodeia. Quando Deus criou o mundo, nos deu a poesia. O que fazemos dela, é nossa responsabilidade. A Natureza é “divina”, e no entanto o ser humano resolve colocar as suas cores escuras, sombrias. Poesia é estar em contato com Deus.
Num imenso palco, o amor
destaca nos jardins meus
um carvalho, com fulgor,
que é ponte entre mim e Deus!…

PRÊMIOS

Tem prêmios literários?

Apenas uma trova premiada em Cruz Alta, no RS, já se fazem muitos anos, nem recordo quando, mas a trova era assim. O tema era Juventude
Foram felizes instantes,
juventude na querência.
Hoje em terras tão distantes,
pilcha... mate… sinto ausência.

Poesia tentei vários concursos sem sucesso. Cronica já pensei em tentar, mas tem tanta gente a divulgar, que não encontrei um tempo para eu montar. Já tenho a idéia formada, sei o que escrever… o tempo é que é curto. Lembra um poema que fiz sobre o tempo: A Locomotiva da Vida
A locomotiva corre
Corre que corre
Corre que corre.

Corre levando a gente
Corre trazendo a gente
E a gente corre e corre
Neste leva-e-traz.

A locomotiva corre e apita
Corre e apita
Corre e apita.

Apita o início do jogo,
Apita a voz de comando
Apita a batalha da vida
Apita a vida passando.

A locomotiva corre e pára
Corre e pára
Corre e pára.

Pára na estação
Pára na carga e descarga
De meus momentos de indecisão.

Vai que vai
Vou que vou
Fico que fico.

E a locomotiva apita
E ela corre que corre
E lá vai ela
E lá vou eu!

Corre que corre,
Corre que corre,
Corre que corre…

A PESSOA POR TRÁS DO ESCRITOR

O que te choca ?

A educação estar em total decadência devido a falta de respeito dos próprios governantes para com os seus mestres. O mestre deixou de ser herói para ser o vilão.
A violência escancarada que existe nas ruas. Vivemos em casas fechadas com chaves, alarmes, cadeados, grades nas janelas, etc. Será que nós não estamos sendo prisioneiros?
Uma chave carregamos
Porta de um mundo melhor.
Entretanto não largamos
A muleta de um bem pior.

O que lê hoje em dia?

Geralmente os escritores brasileiros costumam me enviar livros de sua autoria para minha apreciação, e eu os leio, além de outros que compro, geralmente em sebos, autores não tão conhecidos. São romances, poesias, trovas, contos, históricos, enfim, todos os gêneros. Mas os de cabeceira e sempre presentes, são Nilto Maciel, Átila José Borges, Carolina Ramos, Izo Goldman, Vânia M. S. Ennes, Alberto Paco, Machado de Assis, Luis Fernando Verissimo, Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.

A Vânia fez uma coletânea de trovas formidável, com destaque ao Paraná, mas não negligenciando os trovadores do Brasil e de fora, vivos e falecidos, um documento histórico. O Paco possui romances de qualidade que não ficam em nada a dever aos romancistas brasileiros, e que realmente nos cativam. Linguagem simples, direta e envolvente. O Nilto é obrigatório para quem quer conhecer a literatura nacional. Seus contos são fascinantes, e nos fazem se emocionar e nos revoltar em dados momentos. Carlim, que retrata a vida dos cães que vivem na rua, faz com que nos emocionemos e, nós amantes dos animais, querer ajuda-los. Carolina e Izo são os “bam-bam” das trovas, nem há o que comentar, exceto pelos contos de Carolina que tive o prazer de conhecer, e que são muito divertidos. O Assis, não o Machado, o A.A., daqui de Maringá, considero um dos literatos mais completos do Brasil, trovador, poeta, haicaista, contista, cronista, colunista, e mais algum “ista” que não recordo agora (rsrsrs). Ícone de nossa literatura. André Carneiro, escritor de ficção científica de renome internacional, companheiro de luta de Mario de Andrade, Sergio Millet, e outros, memória viva de nossa literatura, infelizmente não reconhecido como deveria pela mídia. Claro que leio os livros que considero passageiros, que não ocuparão lugar na estante, como os Harry Potter ou Senhores dos Anéis, e alguns brasileiros famosos que por ética não menciono aqui.

Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?

Meu projeto maior é produzir um livro sobre escritores brasileiros conhecidos e desconhecidos que seja distribuído nas escolas de todo o Brasil. Está na hora de o Brasil conhecer os seus valores, de norte a sul, de leste a oeste. A divulgação é muito bairrista, está na hora de globalizar, de ver o Brasil como um só e não “panelas” aqui e ali.


CONSELHOS A NOVOS ESCRITORES

Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?

Primeiro que tenha lido bastante, antes de escrever. Quando for escrever, definir que público pretende alcançar, para escrever a linguagem deles. Escreva sempre que puder, mas seja sempre seu próprio crítico, e leia seus textos como se fosse um leitor, várias vezes e em voz alta para escutar o que escreveu. Não deixe seus textos esquecidos na gaveta, trabalhe eles. Não queria ser Paulo Coelho, Machado de Assis, Moacir Sclyar, etc., seja você mesmo. Críticas aceitem como forma de repensar seus textos e melhorar, ou deixar como está. Existem as negativas e as positivas, deve-se saber separar o joio do trigo. Mas, antes de tudo: Acreditar. Se acreditar, já terá 50% do caminho percorrido.

O que é preciso para ser um bom poeta?

Saber o que é poesia, e as que são consideradas pobres, para que não caia no campo da poesia batida, que será descartada de imediato. Escrever com coerência. Eu participei como jurado de Concursos de Poesias, e boa parte delas não tinham pé, nem cabeça. Não havia liga. Parece que veio um monte de idéias e quis colocar tudo de uma vez. Poesia, como qualquer texto, tem que ter início, meio e fim. Como a minha poesia “Simplesmente Sentindo”. A idéia é sempre a saudade, mas é maneira como se monta ela que dá seu valor e a liga: A Saudade, O Sentimento, O Desejo.
Quando sentir o vento tocar seus ouvidos,
sou eu
sussurrando o meu amor por você.

Quando sentir as gotas da chuva sobre seu rosto,
são as minhas lágrimas
que te encharcam com meu amor.

Quando sentir o calor de um dia de verão,
é o meu corpo
te abraçando e
te dando o calor de meu coração.

Quando olhar pela janela de seu quarto
e vir as estrelas piscando,
são meus olhos
que piscam como as estrelas
as palavras
“Eu te amo!”

Quando passear pelo parque
e vir uma árvore,
abrace-a e feche os olhos,
estará abraçando a mim,
meu corpo, meu coração
junto a si.

E se olhar para o alto desta árvore
ouça o farfalhar das folhas
É minha voz dizendo:
Eu sou teu para todo o sempre,
Volta para mim!

Se Deus parasse na tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?

1 – Que as guerras terminassem, e os povos se unissem no combate a fome, a miséria e as doenças.
2 – Que a humanidade pudesse mostrar sua grandeza ao respeitar o seu meio ambiente e os animais que os rodeiam.
3 – E… deixe eu pensar em mim um pouco: ter a capacidade de ajudar a mim e aos que estiverem próximos de mim.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DANÇA PARALELA


(Inspirado no quadro "As quatro estrelas gêmeas" de Carlos Zemek)



As estrelas emolduram rostos na superfície do espaço.
No labirinto do tempo
linhas paralelas
marcam o destino dos astros,
enquanto acaçapados em arquipélagos de sonhos
recebemos o açoite do vento.


Somos poeira de estrelas
e nosso próprio rosto tem brilho incandescente no labirinto dos espelhos.
Poema de Isabel Furini

Para ver os quadros de Carlos Zemek clicar: www.cazemek.blogspot.com

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Palavras (Mini-crônica)

Quando a emissora abriu, já havia uma fila de milhares de palavras. As arrogantes empurravam, e as tímidas, acovardadas, cediam os seus lugares. Algumas palavras eram boas, mas também havia palavras ruins. Algumas eram difamatórias, e outras, grosseiras.

A fila foi andando. A última palavra, cabisbaixa, apoiou-se na porta.

– Pode entrar – falou o porteiro.
– Para que? Ninguém se lembra de mim.
– Neste lugar inspirarás poetas, participarás de diálogos e discursos. Ressurgiras!

A palavra fraternidade entrou e propagou-se pelo mundo.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada, autora de "O Livro do Escritor" da editora Instituto Memória.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O DIREITO E A ARTE – UMA COLETÂNEA







O livro “O DIREITO E A ARTE – Uma coletânea” (Ed. Solar do Rosário, 2011, 328 p.) foi lançado no mês de junho, mas o projeto já tem cinco anos de história. O objetivo é compartilhar com o público a coleção privada de João Casillo.

Com a seriedade que caracteriza as ações dos doutores e colecionadores de arte Regina e João Casillo, o projeto “O Direito e a Arte – Uma coletânea” iniciou-se em 2006. A editora do Solar do Rosário conseguiu aprovação pela Lei Rouanet. O objetivo era mostrar a coleção particular de obras e peças ligadas ao direito e à justiça. São mais de duas mil peças reunidas pelo advogado Casillo ao longo de 40 anos. Em 2009, as peças começaram a ser catalogadas. Em 2010, foi o momento das fotografias e editoração. O livro foi finalizado no início de 2011.

No prefácio, o autor esclarece que “algumas peças foram adquiridas em antiquários, outras são réplicas de museus. O maior número ou vem diretamente das mãos dos artistas ou mesmo de fotos ou reproduções”.

Obedecendo à temática jurídica, o livro apresenta quadros, gravuras, esculturas, miniaturas, documentos. O fio condutor é a proximidade da arte com o tema jurídico. As obras foram organizadas por assunto, começando com arquitetura. O primeiro capítulo fala do imóvel de estilo palaciano, o sobrado rosa da esquina das ruas Lourenço Pinto e Sete de Setembro, construído em 1850. Em 1999, esse imóvel foi comprado e restaurado, conservando as características originais. Ele é parte da história de Curitiba.

O segundo capítulo, “As várias concepções artísticas da justiça”, começa com um texto que nos leva a entender como a justiça era representada em civilizações antigas: Suméria, China, Japão, Egito, Grécia e, logicamente, Roma. Disse Casillo: “Os antigos romanos, que legaram ao mundo ocidental o maior sistema jurídico, eram muito mais práticos do que abstratos. (...) Entre os romanos várias divindades eram relacionadas ao Direito. Três delas eram responsáveis pela correção nas transações pública e privadas: Fides, deus Fido e Semo Sancus”. Quadros, escultura, desenhos, citações sobre o tema de grandes nomes, entre eles: Homero, Aristóteles, Sêneca, Gandhi e outros.

Em síntese: um livro de arte pensado e editado com cuidado estético que merece um olhar atento para ser apreciado em todos os seus detalhes. O livro não é comercializado, mas está sendo doado para bibliotecas, escolas, universidades e tribunais em todo o Brasil.


João Casillo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Novo livro de Adélia Maria Woellner













FESTA NA COZINHA – bom apetite (edição do autor, com apoio da Kraft Foods Brasil, 2011, 36 p.) é um livro muito colorido e com belos poemas da Adélia Maria Woellner. As ilustrações são de Heliana Grudzien. Além de ser um livro com bom trabalho gráfico, realizado pela Nexus Design, é engraçado e incentiva a boa alimentação, base da saúde.
Os poemas visam despertar o interesse das crianças para os alimentos sadios em um mundo no qual o "fast food" é muito popular. Adélia enfatiza que nesta época as crianças não mostram interesse em alimentos naturais. Elas raramente vão à cozinha para comer uma pera, uma banana, uma maçã ou outras frutas. Preferem produtos industrializados. Tampouco sentem atração pelos sucos naturais. A maioria das crianças escolhe refrigerante.

Os poemas focam diferentes alimentos, entre eles: laranja, maçã, milho, banana, feijão e arroz, tomate, cebola, banana, pêssego e outros.
Os poemas são fáceis de lembrar e podem ser usados em sala de aula para complementar um assunto tão importante como é a boa alimentação.
Vejamos o poema que fala da banana:
“Sua risonha carinha,
A banana quer mostrar:
De tirinha em tirinha,
Basta, apenas, descascar.”
No final do livro, os leitores poderão ler e aprender receitas fáceis como frapê de morango, sandwich “Cara de Lua Cheia” e torta salgada.

ENTREVISTADA: ADÉLIA MARIA WOELLNER
Adélia é poeta e escritora, membro da Academia Paranaense de Letras, autora dos livros: Férias no sítio, A água que mudou de nome, A menina que morava no arco-íris (história foi adaptada, por Gil Gabriel, para o teatro de bonecos), e Festa na Cozinha.






Adélia Maria Woellner.

Adélia, quando nasceu o seu desejo de ser escritora?
– Para falar francamente, nunca desejei ser escritora. Aconteceu, porque escrever, para mim, sempre foi uma necessidade. Um prazer. O primeiro livro de poemas foi publicado por sugestão de um amigo, em 1963. Depois aconteceram outros, mas só consegui aceitar a condição de escritora há poucos anos.

Por que escreve para o público infantil?
– Eis outro presente que recebi da vida. Quando escrevi o livro "Para Onde Vão as Andorinhas...", relatando a vida de meus antepassados, ao descrever o sítio de meu avô materno, onde passava alguns dias mágicos, encantadores, o texto surgiu em forma de poema.
Um amigo, lendo-o, me sugeriu: "este poema daria um livro infantil". Pois é... E assim nasceu o "Férias no Sítio", que foi ilustrado pelo meu sobrinho-neto Rafael Furtado Casagrande, com apenas 8 anos de idade. Foi uma delícia!
Acho que, aberta a porta, os outros livros aproveitaram a "fresta" e vieram atrás... Você já os citou. Além deles, também nasceram "A menina do vestido de fitas", para colorir, e uma coleção em coautoria com a Heliana Grudzien, em doze volumes: "Valores Humanos", para a Editora Expressão. Este ano será publicado "A vida do papagaio de cara roxa", em projeto aprovado pelo Ministério da Cultura (Lei Rouanet). Espero, também, conseguir captar recursos para outro projeto, para edição da Coleção Tagarela, com cinco pequenas histórias: "A Casa de Cristal", "O Reino das Águas Azuis", "A Menina do Pastoreio", "A Natureza das Coisas... é assim porque é assim..." e "No Céu e no Mar".

Como surgiu a ideia de escrever um livro infantil sobre alimentos?
– A ideia não foi minha. Eliane Aleixo foi quem me sugeriu. Aos poucos, o tema foi "germinando" e, de repente, aconteceu a história de Dona Margarida. As minhas próprias dificuldades em apreciar alimentos naturais me inspiraram. E hoje, mais do que no meu tempo, os alimentos industrializados conquistam, seduzem as crianças que, pouco a pouco, perdem a atração por alimentos importantes e indispensáveis à saúde. Esta a motivação.

Como estão reagindo as crianças ao ver o livro “Festa na Cozinha”?
– As crianças estão se divertindo... e eu, também. Quando escrevo que cenoura tem topete e que cada fatia, cada rodela, parece um olho, elas reconhecem essas características e a curiosidade é consequência. Depois de ler o livro, tenho certeza de que as crianças passam a enxergar os alimentos de outra forma. Sentem-se mais atraídas por verduras, legumes, frutas... Professores e pais estão aproveitando os pequenos poemas de cada página para despertar essa atração.

Você também é palestrante. Quais são os quesitos para você aceitar ministrar palestras em escolas?
– Não faço restrições, nem exigências. Quando sou solicitada, e tendo disponibilidade de tempo, vou falar com as crianças, com a maior satisfação. O brilho nos olhos delas, o sorriso, as gargalhadas, a empolgação, tudo isso me anima e me incentiva a continuar.

Como podem fazer os professores interessados em suas palestras para entrar em contato com você?
– O contato comigo pode ser feito pelo telefone 9975-7108 ou pelo e-mail: adeliamaria@hotmail.com









Isabel Furini é escritora, poeta e palestrante autora de O livro do Escritor, orienta a oficina Como escrever livros no Solar do Rosário. Contato: (41) 8813-9276.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Currículo de mãe ou currículo profissional

Essa é uma dúvida que carrego há tempo. É algo que chama minha atenção e que me deixa com uma pergunta entre os lábios: Por quê?

Estou me referindo ao fato de ter observado em currículos para livros, palestras, cursos, e outros, que as mulheres misturam os dados pessoais e os dados profissionais. Percebi ao longo dos anos que algumas mulheres colocam frases como: esposa e mãe, ou avó do Dieguinho e da Mariazinha.

Nunca vi um currículo profissional masculino dizendo: sou esposo e pai, ou sou avô do Dieguinho e da Mariazinha. Parece que enquanto os homens se orgulham do fato de serem altamente profissionais, as mulheres querem comover dizendo que são esposas, mães ou avós. Um psicólogo amigo disse-me que isso é manipulação. Um intento de tocar o coração dos outros. Segundo ele, essas mulheres têm medo de não ser suficientemente boas na área escolhida. Escrever no currículo profissional “sou esposa e mãe”, ou “sou avó” seria uma forma de apelo emocional.

Isso me faz lembrar uma tira cômica da Mafalda do cartunista Quino. Susaninha, a amiga esnobe da Mafalda, e outro menino vão começar a jogar xadrez. Susaninha está sentada com uma boneca nos braços, olha para o menino e grita: Você não vai se atrever a derrotar uma mãe, vai?

Na minha opinião, e posso estar errada, se uma mulher coloca no currículo profissional que é esposa e mãe, não acrescenta nenhum dado importante para o trabalho que desempenha (sempre que o trabalho não for cuidar de crianças ou afins).

Além disso, sejamos honestos, depois dos 30 anos, o mais comum é que as mulheres sejam esposas e mães, como os homens, esposos e pais. Depois dos 60 anos, o mais comum é que as mulheres sejam avós.

Durante tanto tempo as mulheres lutaram para ter um lugar ao sol. Lutaram e ainda lutam para serem profissionalmente reconhecidas, por que, então, ao escrever um currículo, não respeitar os limites entre a vida familiar e a vida profissional? Essa é uma pergunta que não quer calar.

Crônica de Isabel Furini publicada no ICNews.
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