sábado, 19 de abril de 2014

13 LINHAS ATRIBUÍDAS AO ESCRITOR GARCÍA MÁRQUEZ



Positivismo é algo muito interessante – ajuda as pessoas a ter alegria e a observar o mundo com a cor da esperança, mas, quando frases positivas são atribuídas a personalidades do mundo das letras, surge a dúvida sobre a autoria. O nome de García Márquez aparece em dois textos positivos que estão sendo publicados nos blogues e sites. As pessoas gostam das ideias e compartilham nas redes sociais.

O primeiro é postado na internet como Carta de despedida, e muitos internautas aconselham ler, reler e seguir, acreditando que García Márquez escreveu essa página como legado para a humanidade, há alguns anos, quando estava com câncer. O fato irritou o autor de Cem Anos de Solidão. Ele disse: “Lo que me puede matar es que alguien crea que escribí una cosa tan cursi". O verdadeiro título desse texto é Marionete, e parece que a autoria é do ventríloquo Johnny Welch.

Com a morte de García Márquez, pulula na internet outro texto com mensagens lindas, mas sem o estilo literário que caracteriza esse autor. Custa acreditar que alguém capaz de escrever O Amor nos Tempos do Cólera tenha perdido sua arte e escrito "13 linhas para viver". Procurei na internet e encontrei poucos sites declarando que esse texto não é de García Márquez, esperamos que alguém da família, amigos ou sua agente literária se manifeste sobre o assunto.

É muito difícil que o texto seja realmente de autoria de García Márquez, e quero colocar na continuação alguns detalhes de “13 linhas” que não se alinham com a obra do grande escritor:

1) A linguagem de Garcia Márquez é metafórica. Existe poesia em seus textos. Ele era um escritor que lia e pensava como escritor – buscando a estética das frases. As "13 linhas" estão escritas em idioma coloquial;

2) As mensagens podem estar enquadradas nos textos de mente positiva, textos escritos com o objetivo de ajudar as pessoas a viver melhor, mas como já falamos, o escritor declarou que nunca escreveria um texto “cursi” como A Marionete, e nada faz pensar que tenha mudado seu pensamento e escrito "13 linhas";

3) García Márquez foi simpatizante do comunismo, muito voltado para as causas sociais e alguns dizem que era ateu. Não era um homem cuja filosofia de vida aconselharia: “Não se esforce”;

4) Em uma entrevista, García Márquez disse que um escritor não pode ler de maneira ingênua. Faz parte de sua bagagem não só ler, mas analisar os detalhes para entender como foram escritos, que técnicas o autor utilizou. Entender como um autor conseguiu estruturar um bom conto ou um romance. Compreender os mecanismos que melhoram cada frase, cada parágrafo. O texto 13 linhas está escrito de maneira ingênua, sentimental. As mensagens têm seu valor, mas não revelam a genialidade estilística do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura;

5) É difícil imaginar García Márquez fechando um texto com a frase: “Tudo o que sucede, sucede por alguma razão”. Assim, curto e grosso. Conselhos simples e estimulantes como esse eu sempre escuto da boca da cabeleireira, que além de cortar e pentear o cabelo com bom gosto, faz questão de ser conselheira sentimental gratuita. García Márquez, se pensasse desse jeito, expressaria essa ideia com linguagem literária;

6) Li as 13 linhas em espanhol e tem algumas frases mal construídas. No 11º conselho, existe uma cacofonia que faz doer a alma de qualquer poeta, escritor ou simples leitor de bom gosto. “Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes”. A sintaxe da frase está errada em português e em espanhol, García Márquez não se permitiria esse erro. Ele era perfeccionista. Na entrevista concedida ao jornalista e escritor Plinio Apuleyo de Mendoza e publicada em Com Cheiro de Goiaba, confessa que jogou fora 300 páginas de um livro porque o resultado não lhe agradou. Mas salvou o título;

7) Quero esclarecer: tenho paixão por frases positivas, mas o mundo dos livros é como uma casa. Não se janta no banheiro, nem se toma banho na cozinha. Ou seja, existe um lugar e um momento para cada coisa. Existem momentos para ler mensagens positivas e outros para ler boa literatura.

Lembro-me de que quando eu era pequena, meu pai, quando alguém cometia erros graves por falta de discernimento, sempre dizia: “No confundir aserrín com pan rayado” (Não confundir serragem com farinha de rosca). Autoajuda é baseada em mensagens, e os autores não realizam o trabalho de cinzelar o texto. Literatura é outra coisa. Literatura trabalha mensagem e texto, ideias e palavras.

Um personagem livre e singular da obra Cem Anos de Solidão é Remedios, a bela, a única que permaneceu imune à peste da companhia bananeira. Esse personagem foi citado como exemplo de mente positiva em uma palestra a que assisti há alguns anos. Na continuação um fragmento do livro que fala de Remedios, a bela, para que o leitor possa comparar com o estilo de 13 linhas e perceber a diferença de estilos:

“– Você está se sentindo mal? – perguntou a ela.
Remedios, a bela, que segurava o lençol pelo outro extremo, deu um sorriso de piedade.
– Pelo contrário. – disse. – Nunca me senti tão bem.


Acabava de dizer isso quando Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancava os lençóis das mãos e os estendia em toda a sua amplitude. Amaranta sentiu um temor misterioso nas rendas das suas anáguas e tratou de se agarrar no lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a ascender. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis a mercê da luz, olhando para Remedios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias.
(...) Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez – Editora Sabiá Ltda. RJ, 1969, página 212 – Tradução de Eliane Zagury.

Isabel Furini é escritora e poeta, autora de “Os Corvos de Van Gogh”.



sexta-feira, 18 de abril de 2014

Em 17 de abril, morre o escritor García Márquez


Em 17 de abril, morreu García Márquez, o escritor colombiano. Fotos e frases do autor pulularam pela internet. Algumas frases são verdadeiras e outras falsamente atribuídas a ele. Muitos leitores, admiradores, escritores e homens públicos mostraram tristeza com a sua morte. Eu não fiquei triste.

Essa afirmação pode parecer de uma pessoa que não gostava de sua obra, ao contrário eu sempre admirei o grande escritor. Li várias vezes "Cem anos de Solidão. Não fiquei triste porque penso que o grande mestre da literatura tinha direito ao descanso. Seu corpo não era mais um fiel instrumento de sua alma, havia-se transformado em um instrumento mudo.

Talvez o mundo perdeu Garcia Marques quando foi diagnosticada a demência senil. Sua memória e sua capacidade de raciocínio estavam afetadas. Esse foi o grande momento de perda para o mundo. Um escritor morre quando não escreve. Essa é uma verdade que todos os escritores, reconhecidos ou anônimos sabemos. Não escrever é a verdadeira morte do escritor. Parar o coração só revela a morte física.

E ontem, 17 de abril de 2014, o coração de Garcia Márquez parou e seus pulmões deixaram de respirar, seu corpo cessou as atividades vitais como uma árvore carregada de frutos, já idosa e fragilizada, é quebrada pelo vento. O escritor descansa depois de uma vida frutífera.

Na sua obra mais reconhecida, Cem anos de solidão, memória e esquecimento fazem parte de um dos primeiros capítulos do livro, quando os habitantes de Macondo ficam com insônia e "Foi Aureliano quem concebeu a fórmula que havia de defende-los, durante vários meses, das evocações da memória. (...) Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para laminar os metais, e não se lembrou do seu nome. Aureliano escreveu o nome num papel que pregou com cola na base da bigorninha(...) Em todas as coisas haviam escrito lembretes para memorizar os objetos e os sentimentos."

O terrível mal acaba quando Melquíades, o cigano visita a cidade. Ele abre a mala, tira uma maleta com muitos frascos e da para beber a seu amigo José Arcadio Buendía, "uma substância de cor suave, e a luz se fez na sua memória".

Garcia Márquez escreveu livros, fez cinema, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Consagrou o seu estilo, mas a crítica ficou dividida. Alguns o consideraram um escritor irregular. Sua obra completa mostra momentos de genialidade e momentos menos inspirados. Mas, os livro "Cem anos de solidão" de Garcia Márquez e "Pedro Páramo" de Juan Rulfo são considerados os melhores romances da língua hispano-americana, grandes obras do realismo mágico. Por isso a obra de Garcia Márquez não cairá no esquecimento, porque tem o sabor do trabalho realizado com os movimentos de sua alma.
Isabel Furini é escritora e poeta.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Homenageados do Concurso Poetizar o Mundo

Hoje, 10 de abril, a partir das 19 horas, no Instituto Cervantes de Curitiba, na abertura da exposição "Encantos de España", receberão Medalhas de Honra Mérito Cultural a professora e artista plástica Celia Dunker, o filósofo, professor, diretor de teatro e promotor cultural Jul Leardini, o poeta Miguel Almada da Academia Campolarguense de Poesia e o ator de teatro e TV. professor Gerson Delliano.

Eles são de áreas diferentes, mas incentivam as pessoas, promovem atividades culturais, formam novos artistas, ou seja, são batalhadores incansáveis do mundo da Arte.

Para eles, uma singela homenagem.

A professora Celia Dunker reuniu seus alunos para participar de várias exposições.
Ela, além de lecionar,  luta para que seus alunos possam crescer como artistas.


Gerson Delliano é ator de teatro e de TV., diretor de teatro, e também realiza cursos na área de teatro, incentivando os novos atores e abrindo espaços para que possam crescer.
Jul Leardini, é professor, filósofo, ator, declamador e diretor de teatro. Ele sempre lutou em prol dos artistas em diversas instituições. 


Miguel Almada, é poeta e escritor e um dos fundadores da Academia Campolarguense da Poesia.
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