sexta-feira, 18 de abril de 2014

Em 17 de abril, morre o escritor García Márquez


Em 17 de abril, morreu García Márquez, o escritor colombiano. Fotos e frases do autor pulularam pela internet. Algumas frases são verdadeiras e outras falsamente atribuídas a ele. Muitos leitores, admiradores, escritores e homens públicos mostraram tristeza com a sua morte. Eu não fiquei triste.

Essa afirmação pode parecer de uma pessoa que não gostava de sua obra, ao contrário eu sempre admirei o grande escritor. Li várias vezes "Cem anos de Solidão. Não fiquei triste porque penso que o grande mestre da literatura tinha direito ao descanso. Seu corpo não era mais um fiel instrumento de sua alma, havia-se transformado em um instrumento mudo.

Talvez o mundo perdeu Garcia Marques quando foi diagnosticada a demência senil. Sua memória e sua capacidade de raciocínio estavam afetadas. Esse foi o grande momento de perda para o mundo. Um escritor morre quando não escreve. Essa é uma verdade que todos os escritores, reconhecidos ou anônimos sabemos. Não escrever é a verdadeira morte do escritor. Parar o coração só revela a morte física.

E ontem, 17 de abril de 2014, o coração de Garcia Márquez parou e seus pulmões deixaram de respirar, seu corpo cessou as atividades vitais como uma árvore carregada de frutos, já idosa e fragilizada, é quebrada pelo vento. O escritor descansa depois de uma vida frutífera.

Na sua obra mais reconhecida, Cem anos de solidão, memória e esquecimento fazem parte de um dos primeiros capítulos do livro, quando os habitantes de Macondo ficam com insônia e "Foi Aureliano quem concebeu a fórmula que havia de defende-los, durante vários meses, das evocações da memória. (...) Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para laminar os metais, e não se lembrou do seu nome. Aureliano escreveu o nome num papel que pregou com cola na base da bigorninha(...) Em todas as coisas haviam escrito lembretes para memorizar os objetos e os sentimentos."

O terrível mal acaba quando Melquíades, o cigano visita a cidade. Ele abre a mala, tira uma maleta com muitos frascos e da para beber a seu amigo José Arcadio Buendía, "uma substância de cor suave, e a luz se fez na sua memória".

Garcia Márquez escreveu livros, fez cinema, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Consagrou o seu estilo, mas a crítica ficou dividida. Alguns o consideraram um escritor irregular. Sua obra completa mostra momentos de genialidade e momentos menos inspirados. Mas, os livro "Cem anos de solidão" de Garcia Márquez e "Pedro Páramo" de Juan Rulfo são considerados os melhores romances da língua hispano-americana, grandes obras do realismo mágico. Por isso a obra de Garcia Márquez não cairá no esquecimento, porque tem o sabor do trabalho realizado com os movimentos de sua alma.
Isabel Furini é escritora e poeta.

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