domingo, 16 de setembro de 2012

A fachada e os fundos" (Resenha)


Recebi o livro de poemas de Edson Falcão, “A fachada e os fundos”, editado pela dezoito zero um cultura e arte, em 2010. É um livro com 44 poemas de cunho contemporâneo, que parece dar olhares de relances sobre o homem inserido no meio urbano. Perdido talvez, entre o mundo subjetivo e o império da objetividade que o obriga a afastar os olhos de si mesmo e focá-los no exterior.

No poema “Não sei quando” fala: “Não sei quando/ o mundo/ nasceu intencionalmente/ sei que pode ter nascido materialmente/ lá no quintal de casa/ há dez anos e cento e oitenta poemas/ mais ou menos”.  Imediatamente o poeta tenta entender a sua realidade e continua dizendo na segunda estrofe: “cheguei munido de textos/ carne osso e significados/ história dentro de histórias (...)”.

Sua poética não tem metáforas simples, nem flores no vergel. É a poética dos jovens que nasceram depois que os ideais dos hippies se transformaram em cinzas. Receberam como herança um mundo consumista, onde o poeta parece não ter lugar. É a solidão sem palavras procurando ecoar em alguém: “o que você talvez espere/ é algo como as marcas do calendário/ que estão a sua espera”. Parece a síntese das horas monótonas e vazias. Só marcas no calendário.

Na introdução, o jornalista, escritor e poeta Jaques M. Brand fala no prefácio que Edson Falcão tem “legitimidade para interessar o leitor que busca, fora da feira literária das vaidades, o fazer poético autêntico”. Ou seja, Edson Falcão é um autêntico poeta, que não escreve só para ser aplaudido, nem satisfazer a vaidade do ego, escreve como todo autêntico poeta, por necessidade de expressão. Poeta escreve da mesma maneira que respira, instintivamente, para não morrer.

Na visão de Jaques M. Brand, com esse livro, “encontramos o artista no inteiro domínio dos seus meios, a ingressar na fase em que se dispensam os mestres...”. Edson nasceu em 1979, em Pitanga, Paraná, e é um poeta jovem estruturando o próprio caminho. Vejamos o poema “O rato que rói meu rosto – 2”:
um homem vindo do interior
cuida de seu interior
como a moça cuida do quarto de seda
guarda segredos como louça
grosso mar de palavras
nexo para usar em casa

 de vez em quando fala e inventa coisas

Resenha publicada no ICNews - coluna Livros de Isabel Furini.

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