Entrevistamos
Homero Gomes para conhecer melhor a sua trajetória no mundo da literatura.
Homero, quando
começou a escrever poemas?
Comecei
no século passado, mas ainda não imaginava que assumiria essa atividade com
tanta seriedade. Há pouco mais de quinze anos, sentava e escrevia como quem
passava o tempo ainda adolescente. Muito poema foi para o lixo, muitos ficaram
como registro do que não devo nunca mais fazer.
Cada poeta usa
recursos diferentes. Quais são os recursos que você mais valoriza na escrita
poética?
Como
escrevi no ensaio Maldição da Leitura, publicado no jornal Rascunho, “talvez a
literatura só traga mais caos à vida que já é turbulenta por natureza”, e é
essa natureza, essa turbulência da vida, o sofrimento, a tristeza, a solidão, o
desespero, a crueldade, a morte, os recursos que utilizo para escrever meus
poemas. É na vida que penso.
Como você definiria
o seu estilo?
Mesmo
focado na vida, na natureza do ser humano, a voz dos meus poemas não é
coloquial. Pode parecer contraditório isso, mas é assim. Desenvolvi uma voz
muito imagética, narrativa, encantatória. Ou como disse Fernando Monteiro na
quarta-capa de Solidão de Caronte, uma “poesia reflexiva que caminha para o
cinzento da angústia contemporânea”. De uma preocupação, de um incômodo a respeito de algo que eu tenha visto, que tenha ouvido ou vivenciado. A partir dessa moléstia, penso em imagens, em sequências de ações, a partir delas as palavras vão surgindo guiadas pela narratividade própria da voz poética que desenvolvi. Voz que se permite impregnar-se de elementos estrangeiros como a filosofia, a religião e a mitologia, como bem lembrou Carlos Felipe Moisés, na orelha que escreveu para o livro, “poesia às vezes discreta, às vezes ostensivamente impregnada de seriedade e de filosofia, com a mediação da tradição bíblica ou do recurso à mitologia”.
Fale sobre o seu
novo livro “Solidão de Caronte” – Como surgiu o título? Qual a orientação dos
poemas?
O
título do livro remonta não apenas à figura mitológica do barqueiro, mas à
solidão a qual ele está condenado. Metáfora que Micheliny Verunschk
identificou, relacionando-a a função de todo poeta, pois “não é por acaso que o
livro se inicia com Sísifo e conclui com Prometeu, ambos mitos que reverberam o
ofício da poesia”. Entretanto, não apenas aos poetas, mas aos seres humanos
amaldiçoados a sofrerem sozinhos as suas angústias e tristezas.
Os
poemas do livro são irmanados em temas e numa voz que não sou eu, mas com a
qual me identifico. Sou muito criterioso, por isso, publiquei depois de tanto
tempo e, também, restringindo ao máximo a quantidade de poemas no livro. O
tempo, no final das contas, não importa. Sou poeta bissexto, sou escritor de
final de semana. Pelo menos, por enquanto. Mas sou leitor em tempo integral,
porque, assim como o Borges, me orgulho mais daquilo que li do que daquilo que
escrevi.
Entrevistadora: Isabel
Furini
Isabel Furini é escritora e poeta premiada. Autora do livro de poemas “Os Corvos de
Van Gogh”. Contato: isabelfurini@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário