domingo, 13 de outubro de 2013

HOMERO GOMES E A ARTE POÉTICA

Curitiba é uma cidade rica em produções literárias e artísticas. Sobre os poetas,  um professor falou que “moram à sombra do grande Leminski”. Muitos poetas, na atualidade, estão desenvolvendo uma linguagem própria, entre eles destacamos o trabalho de Homero Gomes. Ele é autor de “A Solidão de Caronte” e participará da antologia “Fantasma Civil”, organizada por Ricardo Corona.  O livro será lançado em 21 de outubro, 17h, no Palacete Wolf, Praça Garibaldi, 7 - Setor Histórico de Curitiba.

Entrevistamos Homero Gomes para conhecer melhor a sua trajetória no mundo da literatura.
A antologia Fantasma civil, organizada pelo poeta Ricardo Corona para a Bienal Internacional de Curitiba 2013

Homero, quando começou a escrever poemas?
Comecei no século passado, mas ainda não imaginava que assumiria essa atividade com tanta seriedade. Há pouco mais de quinze anos, sentava e escrevia como quem passava o tempo ainda adolescente. Muito poema foi para o lixo, muitos ficaram como registro do que não devo nunca mais fazer.

Cada poeta usa recursos diferentes. Quais são os recursos que você mais valoriza na escrita poética?
Como escrevi no ensaio Maldição da Leitura, publicado no jornal Rascunho, “talvez a literatura só traga mais caos à vida que já é turbulenta por natureza”, e é essa natureza, essa turbulência da vida, o sofrimento, a tristeza, a solidão, o desespero, a crueldade, a morte, os recursos que utilizo para escrever meus poemas. É na vida que penso.

Como você definiria o seu estilo?
Mesmo focado na vida, na natureza do ser humano, a voz dos meus poemas não é coloquial. Pode parecer contraditório isso, mas é assim. Desenvolvi uma voz muito imagética, narrativa, encantatória. Ou como disse Fernando Monteiro na quarta-capa de Solidão de Caronte, uma “poesia reflexiva que caminha para o cinzento da angústia contemporânea”.

 
Qual caminho segue para construir seus poemas? Você parte de uma ideia, de uma imagem, de uma palavra?
De uma preocupação, de um incômodo a respeito de algo que eu tenha visto, que tenha ouvido ou vivenciado. A partir dessa moléstia, penso em imagens, em sequências de ações, a partir delas as palavras vão surgindo guiadas pela narratividade própria da voz poética que desenvolvi. Voz que se permite impregnar-se de elementos estrangeiros como a filosofia, a religião e a mitologia, como bem lembrou Carlos Felipe Moisés, na orelha que escreveu para o livro, “poesia às vezes discreta, às vezes ostensivamente impregnada de seriedade e de filosofia, com a mediação da tradição bíblica ou do recurso à mitologia”.


Fale sobre o seu novo livro “Solidão de Caronte” – Como surgiu o título? Qual a orientação dos poemas?
O título do livro remonta não apenas à figura mitológica do barqueiro, mas à solidão a qual ele está condenado. Metáfora que Micheliny Verunschk identificou, relacionando-a a função de todo poeta, pois “não é por acaso que o livro se inicia com Sísifo e conclui com Prometeu, ambos mitos que reverberam o ofício da poesia”. Entretanto, não apenas aos poetas, mas aos seres humanos amaldiçoados a sofrerem sozinhos as suas angústias e tristezas.

Os poemas do livro são irmanados em temas e numa voz que não sou eu, mas com a qual me identifico. Sou muito criterioso, por isso, publiquei depois de tanto tempo e, também, restringindo ao máximo a quantidade de poemas no livro. O tempo, no final das contas, não importa. Sou poeta bissexto, sou escritor de final de semana. Pelo menos, por enquanto. Mas sou leitor em tempo integral, porque, assim como o Borges, me orgulho mais daquilo que li do que daquilo que escrevi.

Entrevistadora: Isabel Furini
Isabel Furini é escritora e poeta premiada. Autora do livro de poemas “Os Corvos de Van Gogh”. Contato: isabelfurini@hotmail.com

 

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