Há
anos oriento oficinas de literatura, e uma pergunta que surge frequentemente me
leva a considerar que na atualidade o ser humano tem medo de pensar por si mesmo e
medo de se expor. A pergunta é: “e sobre qual tema vou fazer uma
crônica?”. Essa pergunta é
feita por pessoas inteligentes, capazes, muitas delas formados, bons
profissionais, mas que têm medo de expressar o seu mundo interior, medo de
errar, medo de escrever sobre algum assunto que desagrade.
Em primeiro lugar, devo dizer que uma das
características do bom cronista é o fato de ser desagradável. Ele não pode
agradar a todos, nem tentar fazer isso. Ele é como um espelho de sua época.
Reflete o entorno.
O
cronista procura as armas mais adequadas para escrever a sua crônica. Às vezes,
pode ser chamado de canastrão e outros, de pessoa sensível. Ele nem sempre está
preocupado com o impacto de suas palavras, mas com a satisfação de dizer alguma
verdade que paira na sua cabeça e não o deixa dormir.
Tem também o medo de errar, sim, porque o século
XXI tem uma obsessão com uma meta impossível: a perfeição. As pessoas acham que
devem ser perfeitas. Ter o corpo perfeito. Não ter rugas, apesar de que os anos
passam e mostram o contrário. Triunfar em tudo – para isso estão os filmes
americanos mostrando o triunfador em esportes, em negócios, na vida. Dizer que
não conhecem o ódio nem o rancor, são grandes e bons, verdadeiros heróis. Devem
mostrar que também a vida familiar é uma perfeição. Ninguém fala uma palavra em
voz alta. São todos seres equilibrados. Sim, porque neurose, obsessões,
bipolaridade, depressão e outros sintomas de nossa sociedade consumista só
atingem os outros. Cada um tenta mostrar a sua maneira que navega no barco da
perfeição enquanto mora numa sociedade na qual impera a competição e a neurose
pelo poder e pela riqueza.
Seres humanos são contraditórios. Interessante é
perceber que sentimos vergonha dessa contradição, contradições entre palavras e
ações, contradições internas, por exemplo, entre o dever e o desejo, entre o
ideal de beleza e o instinto de sobrevivência, que nos induz a fazer coisas nem
sempre certas. As próprias empresas correm atrás do lucro para poder
sobreviver, mas só falam de sua “missão idealista”. Uma empresa que não dá
lucros fecha as portas, não interessa que seu ideal seja maravilhoso. Um ser
humano que não sabe se proteger dos joguinhos de poder do mundo neurótico que
vivemos será facilmente manipulado. Mas é melhor fechar os olhos, continuar o
sonho da perfeição, dizer que somos maravilhosos... santos ou anjos caídos no
planeta Terra.
Talvez por isso não importem os estudos, a
formação profissional, o nível socioeconômico. Muitos alunos perguntam: Sobre
qual assunto vou escrever? Talvez eles desejem algum assunto muito simpático
para não revelar o ser interior. Porque, sejamos honestos, é impossível viver
só de photoshop. Tarde ou cedo é preciso olhar no espelho da verdade, ainda que
seja só para escrever uma crônica.
Isabel Furini é escritora e poeta premiada,
autora de “Os Corvos de Van Gogh”, orienta oficinas literárias no Solar do
Rosário. Contato (41) 8813-9276.
Adorei seu texto, temos que escancarar a verdade do que pensamos sobre o mundo, sem medo, para poderos escrever uma boa crônica. eu tenho ensaiado alguns textos, pois adoro o ato de ler e escrever. Trabalho em um Biblioteca de Colégio Estadual em Piraquara PR, e sempre adorei ler e escrever. Tenho um Blog de leitura, onde de vez em quando arrisco escrever algo.
ResponderExcluirwww.marilise3673.blogspot.com.br
Espero sua visita e suas críticas.