quarta-feira, 28 de março de 2012

REINALDO POLITO (ESCRITOR ENTREVISTADO)

Entrevistamos pelo e-mail o professor, palestrante e escritor REINALDO POLITO. Suas obras já venderam mais de um milhão de exemplares.


1) Como foi o início de sua carreira de escritor?

Levei nove anos escrevendo meu primeiro livro. Por ser muito criterioso, mas também por falta de competência. Sempre que voltava ao texto encontrava alguma incorreção. Ainda bem, pois o livro foi muito bem aceito e faz sucesso até hoje.

Depois que concluí o último capítulo comecei peregrinação batendo à porta das editoras, mas nenhuma se interessou. A maioria nem respondia. No fim, um ex-aluno, Nilson Lepera, hoje diretor comercial da Editora Saraiva, resolveu peitar a publicação.

Foi assim que comecei minha carreira de escritor. Hoje são 19 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos no Brasil e em diversos países. Cinco dos meus livros entraram para as listas dos mais vendidos do país. O livro “Superdicas para falar bem” foi um dos dez livros mais vendidos no Brasil em 2006.

2) Como é para você perceber que mesmo com o passar dos anos, seu livro: Como Falar Corretamente e Sem Inibições, continua despertando o interesse dos leitores?

Esse foi o tal do meu primeiro livro. Quando escrevi essa obra, apesar de todas as dificuldades, procurei incluir minha experiência como professor de oratória e as incansáveis pesquisas que empreendi em todas as obras disponíveis.

A primeira edição do livro tinha 208 páginas, hoje, depois de 24 anos, a 2ª reedição da 111ª edição está com 312 páginas. Ou seja, enquanto vendia mais de 500 mil exemplares fui aprimorando, ampliando, incluindo todas as descobertas que fiz e faço sobre o tema.

Portanto, respondendo objetivamente à sua pergunta, o livro continua despertando interesse porque procuro reescrever seus capítulos com informações e linguagem sempre atualizadas para as necessidades do público atual.



3) Se tivesse que fazer uma escolha: Escrever ou discursar. O que você escolheria?

Seria o mesmo dilema de ter de escolher entre ficar com um ou outro filho. Sinto enorme prazer quando estou no palco fazendo palestra, e não me canso de pôr minhas ideias no “papel”. Chego a escrever 20 textos por mês. Fico falando na frente dos meus alunos todos os dias de manhã, à tarde e à noite. A alegria é a mesma.
4) Qual é sua relação com os leitores?

Sempre me emociono quando encontro pessoas que me procuram com um exemplar do livro para pedir autógrafo. Tive de segurar as lágrimas quando um leitor me procurou depois de uma palestra em Fortaleza dizendo que o livro havia mudado sua vida. Olhei aquele livro já com as páginas surradas pelo uso e imaginei quantas noites aquele rapaz passou com aquele livro nas mãos.

5) Quais são seus livros preferidos?

Leio todos os livros do John Grisham. Sou apaixonado pelo Machado de Assis. Sempre gostei muito de um autor que foi desprezado pela turma de vinte e dois, o parnasianista Coelho Neto. Atualmente minha escritora preferida é minha filha Roberta. Ela escreveu o romance “Amores incertos” e me seduziu com sua competência para criar personagens e pelo ritmo instigante de seus diálogos.

6) Alguns falam sobre o fim do livro e da biblioteca. Qual é a sua opinião?

Tenho discutido muito esse tema. Sinto certo desespero por parte de algumas editoras que pensam no livro impresso em papel com os dias contados. Acho que o livro digital veio para ficar, mas não acredito que ele substitua de vez o livro tradicional. Tenho certeza de que conviverão cada um com seu mercado.

Tenho prazer em pegar o livro e sentir suas páginas. Até o cheiro do livro me atrai. Por outro lado, sempre que viajo ao exterior levo cerca de meia dúzia de livros. Pesam na mala. Com o Kindle ou I Pad o problema deixa de existir. Eu posso agora levar no pequeno aparelho quantos livros desejar.

7) Você é conhecido como autor de livros de comunicação, mas seu novo livro: O QUE A VIDA ME ENSINOU, trilha outros caminhos. Pode ser considerado um livro de auto-ajuda?

Não tenho nada contra livros de auto-ajuda. Já li inúmeras obras excelentes dessa categoria, como, por exemplo, “Um homem e seus discípulos” do Cesar Romão.

Quando, por exemplo, vejo meu livro “Assim é que se fala” relacionado nas listas de mais vendidos como auto-ajuda penso que “Arte retórica e arte poética” de Aristóteles também seria uma obra de auto-ajuda, independentemente da qualidade de cada um.

“O que a vida me ensinou” é realmente um livro diferente de todos os outros que já escrevi. Só aceitei esse desafio, entretanto, porque pude falar sobre minha atividade profissional. Analisei todas as histórias verdadeiras da minha vida e tentei descobrir como cada uma delas interferiu na minha carreira. Foi fascinante identificar motivos e causas que nem mesmo eu tinha consciência.

Nunca imaginei que receberia resposta tão imediata dos leitores. Nenhum de meus 18 livros anteriores produziu tanta reação nas pessoas. Muita gente se emocionou e até chorou ao ler as histórias.

Há pouco tempo participei de uma entrevista no Portal Terra. No final eu disse que o objetivo do livro era o de motivar o leitor para avaliar sua trajetória e encontrar os melhores caminhos para sua carreira. No final do programa a editora surgiu detrás das câmeras e me disse que isso já havia ocorrido com ela.

Contou que levou o livro para a praia no final do ano e não conseguiu para de ler até chegar à última página. Ao fechar o livro sua vida estava mudada. Assim que retornou disse que eu deveria ser entrevistado de qualquer maneira para falar sobre o livro. É só um exemplo para mostrar o resultado desta obra. Quem lê o livro percebe que escrevi cada capítulo com o coração aberto. Todos me dizem que o livro transpira sinceridade.

8) Existem novos projetos em pauta?

Estou com um projeto bem adiantado para um livro digital, associando texto, áudio e vídeo. É um plano pioneiro.
Até o meio do ano sai também uma história em quadrinho onde sou o protagonista. A obra será lançada pela Editora Europa e já está sendo desenvolvida há um ano.

Além desses projetos continuo coordenando a série “Superdicas”, em livro e audiolivro para a Editora Saraiva, e a série I superconsigli para a Editora Italianova, da Itália.

9) Conforme você disse, sua filha, Roberta Polito, lançou neste início de ano Amores Incertos, seu primeiro romance. Você incentivou-a para escrever o romance ou Roberta nasceu com vocação de escritora?

A Roberta sempre escreveu de forma correta e conhece bem a língua portuguesa. No ano passado ela me mandou alguns contos que estava escrevendo e fiquei muito surpreso com a qualidade do trabalho. Li tudo com bastante cuidado e fiz algumas observações. Ao ver meu interesse ela se entusiasmou e resolveu voar mais alto.

O editor da Editora Europa, Roberto Araújo, e sua esposa Shirley, que escrevem muito bem montaram comigo e com a Roberta um grupo literário. Toda semana um dos quatro sugere um tema e todos escrevem sobre aquele assunto. A Roberta é muito criativa e conquistou o Roberto com seus contos.

Quando o romance da Roberta estava pronto, e ela nem imaginava que poderia ser publicado, mandei para o Roberto. Ele leu e adorou. Só que como tinha esse contato por causa do grupo não quis tomar nenhuma decisão. Ficou com receio de decidir pela amizade e não pelo profissionalismo.

Tirou o nome da Roberta do livro e passou para outro editor dar o parecer técnico. Sem saber de quem se tratava, nem mesmo se era homem ou mulher quem o escrevera, a resposta foi: eu publicaria o livro imediatamente.

Assim nasceu a escritora. As livrarias também se encantaram e estão expondo o livro com enorme destaque. É possível encontrar pilhas do livro nas redes de livrarias Cultura, La Selva, FNAC, Saraiva etc.

Todos ficam impressionados quando descobrem que é o primeiro romance dela. Já nasceu com experiência e maturidade. Você lê a história e viaja com ela. O leitor tem a impressão de que passeia pelas ruas de Florença, Roma, Veneza. Eu nunca fui ver a festa do Palio em Siena, mas pela leitura do livro já sei como é.

O segundo livro já está na metade. Roberto Araújo não quis correr o risco de perder a autora e encomendou outra obra, pois outras editoras perceberam que se trata de uma escritora competente e já mostraram interesse em seus livros.

10) Que conselho daria aos jovens que desejam serem escritores?

Quando percebi a vocação da Roberta sugeri que estudasse com profundidade a arte de escrever. Ela entrou de cabeça e leu tudo o que encontrou pela frente. Começou lendo “Cartas a um jovem escritor”, do Mário Vargas Llosa e todas as obras que tratavam da arte de escrever livros.

Hoje ela reconhece que essas leituras ajudaram bastante. Ela escreveria sem eles, mas, talvez, sem a qualidade que conseguiu apresentar.
Minha sugestão, portanto, aos jovens escritores é que estudem muito bem essa arte. Aprendam os pilares básicos de como escrever livros.

Comecem publicando textos menores em blogs e sites. Abram suas obras para a crítica de amigos, conhecidos e até desconhecidos. Aprendam que é melhor receber críticas antes de publicar definitivamente seus livros. Saibam que depois de publicados os livros não lhe pertencerão mais. Serão de propriedade dos leitores.

Conheço pessoas que escreveram sem se preocupar com pesquisas, sem se aprofundar nos temas que abordaram, sem analisar as características de suas personagens. Foram tão criticadas que se sentiram desestimuladas a continuar.

Escrever é uma arte que se aprende fazendo. Quanto mais a pessoa escrever mais competente se tornará. Tem de saber também que depois que o livro estiver pronto não será fácil publicar, que depois de publicado também não será fácil vender. Entretanto, o prazer de escrever irá compensar todos esses desafios. Vale a pena.

Esta entrevista foi realizada por Isabel Furini para o jornal Indústria&Comércio, de Curitiba.
Isabel Furini - e-mail: isabelfurini@hotmail.com

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