Mas afinal quais são as características de um bom conto? O
conto, como qualquer texto ficcional, cria um universo paralelo. E esse
universo deve ser plausível. Alguns dizem que um bom conto é aquele que o
leitor lê sem parar, quase sem respirar. Um conto precisa de uma narrativa
intensa, de tensão. No conto tudo se encaminha para o desfecho, o escritor não
tem tempo de tratar de assuntos laterais. O conto é curto e condensado.
Cortázar dizia: “O conto está para a fotografia como o
romance está para o cinema”. Mas o que é importante numa fotografia? Para fazer
uma fotografia artística é preciso determinar vários elementos, entre eles:
enquadramento, luz, definição, proximidade. Pois bem, o mesmo acontece com o
conto. Exige enquadramento, ou seja, limitação do assunto, de personagens e de
ambiente. Assim como um fotógrafo, o contista se pergunta qual será o melhor
efeito, se deve iluminar mais a figura central ou iluminar um lado e deixar o
outro às escuras. Qual ângulo dará a melhor perspectiva? Qual dará mais
profundidade? No conto, a perspectiva do personagem e a profundidade que pode
alcançar são elementos que enriquecem a narrativa.
E a crônica? Já foi considerada um gênero híbrido por
flutuar entre a literatura e o jornalismo. A crônica tem pontos em comum com o
conto. As duas são narrativas curtas. Além disso, a crônica também admite
personagens, o que a torna muito semelhante ao conto.
Então, quais são as diferenças? Enquanto o conto admite
enredos infinitos, a crônica focaliza assuntos cotidianos. O conto admite
vários incidentes. A crônica, só um incidente. A característica marcante da
crônica é o ponto de vista, a opinião, o comentário, elementos que o conto dispensa.
Não é raro confundir os dois gêneros. Isso acontece muito e provoca longos
debates em concursos literários. Porque enquanto alguns consideram que a
crônica deve ser simples, tão simples que qualquer elemento enriquecedor tira a
sua característica de crônica, outros acham que a crônica é um gênero oceânico,
permite qualquer tipo de abordagem.
Desse modo, podemos concluir que conto e crônica não são
gêmeos univitelinos. E o que exigem do escritor? O conto exige unidade, além de
criatividade. Já a crônica exige o poder de observação. O cronista é um
ouvinte. Ele escuta frases, fragmentos de conversas na rua, na fila de banco,
no restaurante. Como falou Rubem Braga, o cronista olha o mundo com os olhos de
um poeta ou de um bêbado.
Uma característica: os dois gêneros parecem fáceis de
trabalhar. Como são gêneros rápidos, dão a falsa impressão de que é só sentar
ao computador e é possível escrever crônicas e contos excelentes. Mas não é
assim. Esses estilos requerem análise microscópica. É preciso, depois de escrever,
trabalhar cada parágrafo, cada frase.
Como fala o aforismo: a crítica é fácil, a arte é difícil.
Isabel Furini é escritora e poetisa premiada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário