quinta-feira, 12 de setembro de 2013

CONTO E CRÔNICA, GÊMEOS UNIVITELINOS?

Conto e crônica são considerados gêneros de fácil execução, por isso atraem os principiantes.  Em “O Livro do Escritor” (Editora Instituto Memória, 2009), ao analisar os contos, falei: “Escrever contos é uma boa opção para iniciantes. O trabalho conclui-se mais rápido. A ansiedade termina em pouco tempo. Isso pode criar a falsa ideia de que escrever um conto é uma tarefa menor: talvez insignificante. Critério errado. A estrutura do conto não é mais simples do que a do romance. É diferente. Escrever um bom conto é difícil.”

Mas afinal quais são as características de um bom conto? O conto, como qualquer texto ficcional, cria um universo paralelo. E esse universo deve ser plausível. Alguns dizem que um bom conto é aquele que o leitor lê sem parar, quase sem respirar. Um conto precisa de uma narrativa intensa, de tensão. No conto tudo se encaminha para o desfecho, o escritor não tem tempo de tratar de assuntos laterais. O conto é curto e condensado.

Cortázar dizia: “O conto está para a fotografia como o romance está para o cinema”. Mas o que é importante numa fotografia? Para fazer uma fotografia artística é preciso determinar vários elementos, entre eles: enquadramento, luz, definição, proximidade. Pois bem, o mesmo acontece com o conto. Exige enquadramento, ou seja, limitação do assunto, de personagens e de ambiente. Assim como um fotógrafo, o contista se pergunta qual será o melhor efeito, se deve iluminar mais a figura central ou iluminar um lado e deixar o outro às escuras. Qual ângulo dará a melhor perspectiva? Qual dará mais profundidade? No conto, a perspectiva do personagem e a profundidade que pode alcançar são elementos que enriquecem a narrativa.

E a crônica? Já foi considerada um gênero híbrido por flutuar entre a literatura e o jornalismo. A crônica tem pontos em comum com o conto. As duas são narrativas curtas. Além disso, a crônica também admite personagens, o que a torna muito semelhante ao conto.

Então, quais são as diferenças? Enquanto o conto admite enredos infinitos, a crônica focaliza assuntos cotidianos. O conto admite vários incidentes. A crônica, só um incidente. A característica marcante da crônica é o ponto de vista, a opinião, o comentário, elementos que o conto dispensa. Não é raro confundir os dois gêneros. Isso acontece muito e provoca longos debates em concursos literários. Porque enquanto alguns consideram que a crônica deve ser simples, tão simples que qualquer elemento enriquecedor tira a sua característica de crônica, outros acham que a crônica é um gênero oceânico, permite qualquer tipo de abordagem.

Desse modo, podemos concluir que conto e crônica não são gêmeos univitelinos. E o que exigem do escritor? O conto exige unidade, além de criatividade. Já a crônica exige o poder de observação. O cronista é um ouvinte. Ele escuta frases, fragmentos de conversas na rua, na fila de banco, no restaurante. Como falou Rubem Braga, o cronista olha o mundo com os olhos de um poeta ou de um bêbado.

Uma característica: os dois gêneros parecem fáceis de trabalhar. Como são gêneros rápidos, dão a falsa impressão de que é só sentar ao computador e é possível escrever crônicas e contos excelentes. Mas não é assim. Esses estilos requerem análise microscópica. É preciso, depois de escrever, trabalhar cada parágrafo, cada frase.

Como fala o aforismo: a crítica é fácil, a arte é difícil.
Isabel Furini é escritora e poetisa premiada.

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