Nesta
época, na qual é tão fácil publicar um livro, é difícil encontrar um bom livro
de crônicas. Ou seja, um livro interessante e bem escrito. Por isso chama a
atenção dos leitores o lançamento de Evandro Barreto, Na Mesa Cabe o Mundo – De
Paris ao bar da esquina, o gosto que a vida tem (Conexão Paris Editora, 2013,
134 p). O autor conseguiu imprimir um ritmo excelente às crônicas. Não é
preciso esforço para realizar a leitura da obra – e isso é um trunfo para
qualquer cronista.
Já o
escritor americano Ernest Hemingway eternizou essa fascinação que a cidade de
Paris desperta nas pessoas com o livro “Paris é uma festa”, e Barreto, com um
espírito mais prático, nos mostra a Paris da gastronomia requintada e até
compartilha endereços para que os leitores viajantes possam conhecer esses
locais.
A obra foi escrita de maneira
estratégica, pois o autor desperta a curiosidade dos leitores falando de Paris,
de gastronomia, de vinho, e até dando um pulinho na Inglaterra para informar em
uma crônica que até Shelock Holmes comia lá. Vejamos um fragmento: “(...)
Simpson’s-in-the-Strand. Integrado ao Hotel Savoy, de Londres, o Simpson’s
existe desde 1828 e serve o roastbeef mais famoso do mundo, maturado por 28 dias
e levado à sua mesa em carrinhos cobertos por grandes tampas de prata com
mossas centenárias. O veículo é pilotado por um especialista no assunto, que
parece trabalhar na casa desde a fundação”. Evandro Barreta dá uma pequena
lista, para não cansar o leitor, de pessoas que passaram pelo local: “Segundo
registros insuspeitos de Sir Arhur Conan Doyle, Sherlock Holmes era cliente
assíduo”.
As
crônicas são ágeis e cativantes. Elas convidam à leitura. A linguagem é clara e
o mérito de Barreto é não se deter demais nos assuntos. São textos de viagens e
têm o movimento, a cor, o entusiasmo de uma viagem: “... antes de tomarmos na
estação de Saint Pancras o trem que nos donduziria de volta a Paris em duas
horas e poucos minutos, pelo Euro-tunnel.” Podemos perceber nesses pequenos
fragmentos que a escrita acompanha o ritmo das viagens. Lendo surge a sensação
de estar visitando esses locais, seja pela primeira ou pela vigéssima vez.
O viajante não é só o autor, mas
também o leitor. Sim, o leitor é o convidado especial, ele contempla paisagens,
saboreia bebidas, reconhece o sabor da boa gastronomia. “Meu caso de amor com
os mexilhões começou na infância... Mais tarde vieram os mariscos da
Catalunha”. Barreto sabe cativar o leitor, fazê-lo viajar nas palavras. Acontece
que ele é publicitário e conseguiu passar o dinamismo e o olhar atento dos
profissionais da publicidade aos textos.
Se você está acostumado a viajar
ou se está preparando a primeira viagem à Europa, esse livro é leitura
obrigatória. E se quer visitar esses locais com a imaginação, o livro também
proporciona referenciais, dados, pequenos detalhes que ajudam a fazer a viagem
maravilhosa. E talvez o mais importante é que terminamos a leitura com aquele
desejo de ler novamente algumas das crônicas. Como um bom vinho o sabor dos
textos permanece na memória.
“Na mesa cabe o mundo” tem um trabalho gráfico
aparentemente simples, mas muito bem elaborado e revela a técnica usada no
livro: simplicidade, detalhes eloquentes, enumerações precisas, enfim, um livro
feito com muito cuidado para conquistar leitores. O livro pode ser adquirido no
site:http://www.conexaoparis.com.br/produto/na-mesa-cabe-o-mundo
Isabel Furini é escritora e poeta
premiada. Já estão abertas as inscrições para a oficina “Como escrever contos
para crianças” no Solar do Rosário, fone (41) 3225-6232. Contato: isabelfurini@hotmail.com,