CONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ
O livro “Confissões da Condessa Beatriz de Dia”, de Guido Viaro, foi lançado em Curitiba no dia 15 de maio e reuniu escritores, jornalistas e amantes das letras. Guido Viaro é o mais jovem membro da Academia Paranaense de Letras, ocupa a cadeira número 14. Formado em Letras, ele é homônimo do seu avô, o pintor ítalo-brasileiro Guido Viaro. É autor de onze romances: O Quarto do Universo, Glória, A Mulher que Cai, A Praça do Diabo Divino, Embaixo das Velhas Estrelas, No Zoológico de Berlim, Flores Coloridas, A Floresta Simbólica, A Revelação Frutosa, O livro do Medo e Confissões da Condessa Beatriz de Dia. O próprio autor diz que, em suas obras, “os temas comuns são exames de consciência, personagens quase sempre sem nome, sem relações com outros personagens, que buscam explicações dentro de si, mostram seus sangramentos espirituais e as cicatrizes que deixam”.
Sua obra “Confissões da Condessa Beatriz de Dia” é um livro instigante e de difícil compressão. Podemos dizer que é o livro das entrelinhas. Muitos aspectos da personagem principal, a Condessa Beatriz, não são revelados diretamente, são insinuados e depende da habilidade do leitor para completar aspectos da subjetividade e da vida da personagem. À medida que vamos lendo, podemos perceber que alguns questionamentos de Beatriz não são típicos da Idade Média, mas o autor revela que ela foi superior a seu tempo, ou seja, ela não estava limitada pela visão comum da mulher dessa época. Um elemento sobressai nessa narrativa: a linguagem poética. Essa linguagem literária talvez seja a arma mais valiosa do autor. O jogo metafórico. As reflexões repletas de lirismo. Entrevistamos Guido Viaro – suas respostas nos ajudam a entender melhor o objetivo de sua obra.
1) Como e quando surgiu a ideia do livro? A ideia do livro surgiu quando ouvi o nome da Condessa, personagem real, compositora e trovadora do século XII, depois fui colocando vida na personagem, falando das angústias femininas que são atemporais. Decidi então não fazer um livro linear, começo pelo fim da vida e vou mostrando as razões que levam a determinadas consequências. Como a morte vai se formando dentro de nós e de que maneira nossos sonhos juvenis são soterrados. Mas não queria chegar a conclusões nem passar mensagens, a confusão do livro é proposital e reflete os estados de espírito da personagem.
2) Gostaria de saber qual é sua proposta: desvendar o universo feminino? Despertar a curiosidade sobre a vida da mulher na Idade Média? Conduzir o leitor pelo caminho da reflexão e da descoberta? A ideia do livro é sobretudo um mergulho no universo humano, que no caso é feminino, mas que não se restringe a ele. A Idade Média é um pano de fundo histórico, mas que em determinados momentos encaixa-se no universo da personagem.
3) Guido, o seu estilo é intimista, confidencial. Você acha que neste momento em que os best sellers são obras de ação, de muito movimento, o seu livro, que é mais reflexivo, tem chances de conquistar um grande número de leitores? Honestamente acho que as chances de conquistar um grande público são quase nulas, mas não é esse o objetivo, escrevo, dou minha visão de mundo, se uma pessoa retirar algo desse esforço, já valeu a pena.
4) A personagem é uma mulher, e a psicologia feminina está muito bem retratada nessa obra. Foi difícil construir essa personagem? Você colocou traços de alguma mulher que faz parte de sua vida familiar? Acho que coloquei pedaços de todas as mulheres que já conheci, mas também há ali alguns homens disfarçados de mulher.
5) Você é autor de vários livros. Qual deles você considera seu melhor trabalho? Honestamente, não consigo (ainda) ter um distanciamento crítico para dizer qual o melhor trabalho. Posso te dizer o que os outros falam, dizem que, sem contar esse último livro, que poucos ainda leram, meu melhor trabalho é o livro anterior a esse "O livro do Medo".
Isabel Furini é escritora, e-mail: isabelfurini@hotmail.com
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