Recebi
um e-mail de um leitor que deseja escrever um livro, mas não consegue definir
se seus textos são contos ou crônica. Nada de estranho com isso, pois na
atualidade diferenciar um conto de uma crônica é uma tarefa difícil.
Não é raro confundir os dois
gêneros. Isso acontece muito e provoca longos debates em concursos literários.
Porque enquanto alguns consideram que a crônica deve ser simples, tão simples
que qualquer elemento enriquecedor tira a sua característica de crônica, outros
acham que a crônica é um gênero oceânico, permite qualquer tipo de abordagem.
Mas, ao final quais são as
características de um bom conto? O conto, como qualquer texto ficcional, cria
um universo paralelo. E esse universo deve ser plausível. Alguns dizem que um
bom conto é aquele que o leitor lê sem parar, quase sem respirar. Um conto
precisa de uma narrativa intensa, de tensão. No conto tudo se encaminha para o
desfecho, o escritor não tem tempo de tratar assuntos laterais. O conto é curto
e condensado.
Em “O Livro do Escritor” (editora
Instituto Memória, 2009), ao analisar os contos falei: “Escrever contos é uma
boa opção para iniciantes. O trabalho conclui-se mais rápido. A ansiedade
termina em pouco tempo. Isso pode criar a falsa ideia de que escrever um conto
é uma tarefa menor: talvez insignificante. Critério errado. A estrutura do
conto não é mais simples que a do romance. É diferente. Escrever um bom conto é
difícil.
E a crônica? Já foi considerado
um gênero híbrido por flutuar entre a literatura e o jornalismo. A crônica tem
pontos em comum com o conto. As duas são narrativas curtas. Além disso, a
crônica também admite personagens, o que a torna muito semelhante ao conto.
Então, quais são as diferenças?
Enquanto o conto admite enredos infinitos, a crônica focaliza assuntos
cotidianos. O conto admite vários incidentes. A crônica, só um incidente. A
característica marcante da crônica é o ponto de vista, a opinião, o comentário,
elementos que podem prejudicar um bom conto.
Desse modo, podemos concluir que
conto e crônica não são gêmeos univitelinos. E o que exigem do escritor? O
conto exige unidade, além de criatividade. Já a crônica exige o poder de
observação. O cronista é bom observador e um bom ouvinte. Ele escuta frases,
fragmentos de conversas na rua, na fila de banco, no restaurante. Como falou
Rubem Braga, o cronista olha o mundo com os olhos de um poeta ou de um bêbado.
Uma característica: os dois
gêneros parecem fáceis de trabalhar. Como são gêneros rápidos, dão a falsa
impressão de que é só sentar ao computador e é possível escrever crônicas e
contos excelentes. Mas não é assim. Esses estilos requerem análise
microscópica. É preciso, depois de
escrever, trabalhar cada parágrafo, cada frase.
Como fala o aforismo: a crítica é fácil, a arte é difícil.
Isabel Furini é escritora e poetisa premiada.
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