Se alguém pensar que Madame Bovary é um livro passado de moda, “chatinho”, está cometendo um grave erro. Emma Bovary , o personagem mais conhecido de Flaubert, é uma mulher ambiciosa. Ela quer tudo o que a vida pode oferecer, elegância, requinte, luxo e deseja sentir-se amada, viver uma grande paixão. E quem não quer?...
Analisemos um pouco mais a protagonista: Emma Bovary é uma bela mulher que ama o requinte e odeia a vida provinciana, pacata, monótona. Uma vida sem emoções, sem paixão, “sem sal” diríamos. E quem não gostaria de ter uma vida apaixonante? Essa pode ser a causa do aumento do Ibope quando as novelas da televisão abordam temas que despertam paixões. As obras de ficção levam à catarse emocional. Por isso, os jovens gostam de livros de ação e aventura, para sonhar com o personagem e viver perigosamente, ainda que seja na imaginação, e as moças preferem filmes românticos, para sonhar com um grande amor.
Na época do lançamento do livro o enredo foi considerado muito ousado. As mulheres só teciam e bordavam, mas Emma Bovary, uma mulher casada com um médico, foge da monotonia de sua vida procurando obsessivamente o amor.
Desde nova seu entretenimento era ler romances cor de rosa, e a literatura, aparentemente um passatempo banal, adquire sua verdadeira dimensão, a literatura é capaz modificar as atitudes humanas. Emma Bovary cansada da vida de província, diverte-se com amantes, uma maneira de dar um impulso a sua vida. A menina sonhadora se torna uma mulher cansada do casamento, que procura em outros amores emoções e brilho.
Charles Bovary, seu marido, é médico do interior sem ambições, que gosta da vida provinciana, mas Emma não é feliz. Ela precisa fugir dessa realidade entediante, ela quer viver seus sonhos procurando outros amores. Emma Bovary foge da realidade, insuportável para ela, e procura viver a vida intensamente, quer viver as aventuras dos livros românticos que lia.
O livro é visionário, Emma fica endividada (assunto moderno, não é verdade?), e existem duas cenas consideradas perfeitas pelos especialistas, são elas: a cena do casamento e o passeio de Emma com Rodolphe, o jovem sedutor.
A característica do escritor Flaubert é que ele escreveu pouquíssimos livros. Procurava a palavra perfeita, aprimorava seus textos incansavelmente. Essa obsessão, ou, como se fala popularmente “essa mania de perfeição”, fazia-o escrever e reescrever o mesmo texto durante anos. Segundo Emile Zola, com o livro “Estava escrito o código da nova arte”.
Em 1857, quando foi editado o livro de Gustave Flaubert, o escândalo deu um empurrão ao romance, tornou-o famoso, pois seu autor foi levado a julgamento acusado de ofensa à moral e à religião. O livro parecia uma apologia ao adultério, crítica o clero e a burguesia. Flaubert lança seu livro e mostra que os padres de igreja também são homens, que tem ambições e defeitos, em fim, que são humanos. Acontece que na época os padres só apareciam na literatura como bons conselheiros dos jovens. Por sorte, Flaubert foi absolvido.
Seus inimigos odiavam Madame Bovary, porque o livro tira as máscaras da sociedade de sua época. E não está muito distante de nosso mundo globalizado. Será que o mundo muda por fora, mas por dentro pulsam os mesmos instintos, os sonhos?
Talvez, depois de ler o livro muitos de nós terá o desejo de gritar junto com Gustave Flaubert: "Emma Bovary c'est moi" (Emma Bovary sou eu).
Texto de Isabel Furini publicado no ICNews.
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