O filósofo Platão dizia que a ignorância é o pior mal que existe. Na filosofia platônica é idealizado um tríptico: o Amor, a Verdade e a Beleza. Para vivenciar esse ideal é necessário ter sabedoria, ou ao menos discernimento.
Pois bem, discernimento é também um "dom". Um dom que algumas pessoas não receberam ao nascer, ou não conquistaram.
Vejamos o caso do livro "A Culpa é das Estrelas" que emocionou milhões de adolescentes no mundo inteiro (e outros não tão jovens). O livro conta a histórica de amor de Hazel Grace e Augustos. Minha surpresa foi que nessa história de amor os jovens protagonistas estão doentes e participam de um grupo de terapia, por isso foi difícil entender como adolescentes de 12 anos, por exemplo, escolhem esse livro.
Uma mãe comentou que a filha tem 12 anos e na sala de aula todas as colegas já leram o livro. A filha também adorou e indica para suas amigas. Ou seja, o livro não é imposto pelo professor, são as alunas que escolhem essa narrativa. Por que? Para responder essa pergunta precisaríamos da opinião de psicólogos, pedagogos e antropólogos. Por que um assunto tão difícil para a vida humana como o câncer é o tema de um livro amado pelos adolescentes?
Como inquiria Jung, será que a sociedade contemporânea só está ocupada em fabricar objetos sofisticados, mas lá, no profundo da psique os medos permanecem escondidos e acaçapados?
Quando comecei a ler o livro fiquei chocada porque esperava um livro leve para adolescentes, e o assunto de "A Culpa é das estrelas" de John Green não é só o amor, mas também o sofrimento dos jovens com uma grave doença.
Como um adolescente de 12, 13 ou 15 anos se sente atraído por uma leitura com personagens com uma doença que assusta até aos adultos? Os personagens estão muito distantes do poderoso Harry Potter.
Um fato relacionado com o livro chamou minha atenção e deu origem a este texto. O livro não agradou as mães, e uma mãe pediu para a escola pública onde o filho estuda, em Riverside, Califórnia, retirar "A culpa é das estrelas" da biblioteca, por achar a leitura dessa obra é inapropriada para crianças de 11 a 13 anos .
A reclamação é que a história tem sexo e câncer... E a vida também, pode ser a resposta.
Voltamos então, ao primeiro parágrafo, a ignorância da qual falava Platão... não podemos fechar os olhos à essa realidade. O mundo atual é de luta e competitividade, tem doenças incuráveis e miséria, adolescentes percebem que devem se adaptar a um mundo com problemas. Alguns falam que o mundo está doente, ou seja, o mundo ideal das redes sociais com pessoas que postam fotos aprimoradas no photoshop, e falam que são incapazes de odiar e que o mundo é alegria e felicidade, não engana nem as crianças que estão entrando na adolescência.
E a ignorância dessa mãe americana é pensar que pelo fato de ter conseguido retirar o livro "A culpa é das estrelas" da prateleira de uma biblioteca de escola pública "as crianças de 11 a 13 anos" não vão ler essa obra. Ao contrário! Elas vão procurar o livro, pedir emprestado, ir na casa do amigo para ler, procurar em outras bibliotecas... com certeza ficarão com curiosidade e procurarão uma maneira de ler esse livro.
Proibir um livro ou um filme é a melhor maneira de fazer o livro e filme mais desejado.
A essência da alma adolescente é transgredir.
Ler um livro pode até ser chato, mas ler um livro proibido parece uma provocação. Desperta o interesse.
Seria mais inteligente em vez de proibir a leitura de um livro, perguntar a causa que faz esse livro tão desejado. Quando um livro que se torna best seller geralmente é criticado por não ter qualidade literária, mas se atinge a alma das pessoas é porque pode conter alguma mensagem que esses leitores querem ouvir.
Texto de Isabel Furini - escritora e poeta premiada.